IBGC lança iniciativa de governança climática no Brasil

Evento marca a escolha do instituto, feita pelo Fórum Econômico Mundial, como representante do Chapter Zero no país 

  • 23/03/2021
  • Ana Paula Cardoso
  • Eventos

Com o objetivo de contribuir para a redução a zero das emissões de gases de efeito estufa até 2050, o IBGC oficializou a parceria com o Chapter Zero na última segunda-feira (22/03), em evento transmitido ao vivo pelo Youtube. “O tema ambiental é discutido há mais de 30 anos no meio científico. Agora tem entrado no local onde pode estimular a implementação de ações concretas, que são os conselhos de administração”, comemorou Karina Litvack, diretora não-executiva do conselho da Eni S.P.A. e fundadora do Climate Governance Initiative (CGI).

Presente no webinar Mudanças climáticas: o papel dos conselhos e o futuro dos negócios | Lançamento do Chapter Zero Brazil, Karina afirmou que os conselhos não devem apenas apoiar a causa de forma aparente. Ela ressaltou a diferença entre uma estratégia séria para evitar mudanças climáticas e uma menos aderente ao tema. “A pauta da mudança climática começa a ser levada a sério quando há um presidente de conselho que diga algo como ‘olha, a Karina está falando de novo aquele assunto que irrita a gente. Vamos ouvi-la e fazer alguma coisa?”.

Diamante de vários prismas

Na agenda ESG, a questão ambiental é considerada primordial. “Por um motivo muito simples: a terra acaba se não reduzirmos a emissão de carbono. E aí não precisaremos mais nos preocupar com questões de desigualdade, racismo etc., já que não vamos mais existir”, disse Karina em tom de ironia. Lutar contra as mudanças climáticas seria, para ela, uma ideia que vai muito além do humanismo puro e simples, porque a questão afeta também a rentabilidade das empresas.

“Logo após a crise de 2008, observamos que os critérios deveriam vir antes dos resultados”, lembrou Carlos Takahashi, CEO da BlackRock Brasil. Segundo ele, a gestora de investimentos, que opera quase 9 trilhões de dólares no mundo inteiro, já retirou seus recursos de empresas que, por exemplo, usam carvão como matriz energética. 

Takahashi lembrou ainda que, entre 2019 e 2020, a Black Rock solicitou a retirada de 64 membros de conselhos de administração de empresas onde fazia aporte financeiro e botou cerca de 160 em avaliação, antes de retirar delas seus investimentos. O CEO da BlackRock Brasil reitera que essas avaliações não são para punir, mas para estimular mudanças que levem ao engajamento em relação às socioambientais. Ele afirmou que a gestora inclusive vem lutando por aumentar a diversidade em conselhos. "A diversidade tem o efeito de um diamante com vários prismas: é capaz de trazer luz a diferentes pontos”, completou Takahashi.  

Foco em continuidade

A proposta de descarbonização da economia apoiada por uma das maiores gestoras de investimento certamente mexeu com o mundo. Mas o efeito de manter o foco neste debate é responsabilidade dos conselhos de administração das empresas. Para Franklin Feder, membro de conselhos de administração nos EUA e no Brasil, com experiência como executivo do setor de mineração, os conselhos acabam se dispersando da agenda ambiental, porque tentam equilibrar várias prioridades ao mesmo tempo. 

"É como tentar um malabarismo, no qual se tenta equilibrar cinco bolas no ar ao mesmo tempo. Uma acaba caindo", disse Feder. Ele deu o exemplo do assassinato de George Floyd nos EUA, que suscitou o movimento black lives matter e incitou os conselhos a focarem em diversidade, deixando as questões climáticas para depois. “Minha experiência em lidar com conselhos me leva a considerar o foco como o desafio principal. É preciso ter continuidade ao tratar o tema das mudanças climáticas”, insistiu Feder. 

Já para Tasso Azevedo, coordenador da MapBiomas & SEEG (Sistema de Estimativa de Emissões de Gases de Efeito Estufa) e também presente no debate, já passou o tempo no qual gestores ou conselheiros de empresas não entendiam a problemática das mudanças climáticas. Para ele, isso mudou.

Tasso considera que, atualmente, a maioria das pessoas consegue entender a problemática do clima: o planeta recebe uma quantidade de energia solar diária e essa energia precisa sair – e o efeito estufa impede essa saída. “O que vemos agora não é mais um movimento das empresas se perguntando se elas precisam reduzir as emissões de carbono. Mas como elas podem reduzir”, acredita Tasso. 

O evento contou com a participação de Leila Loria, vice-presidente do conselho de administração do IBGC, para fazer a abertura. A moderação foi realizada por Ricardo Young, presidente do Instituto Ethos e conselheiro de organizações brasileiras.

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