O board como catalisador da sustentabilidade

Artigo reflete sobre a importância da consciência social e ambiental dos conselhos de administração

  • 09/07/2020
  • *Autores Convidados
  • Artigo

Instigados pelo artigo “EESG, o novo ESG” de Sonia Favaretto no Valor Econômico em abril, o time da Comissão de Conselho de Administração do IBGC a convidou para uma apresentação sobre a agenda de sustentabilidade. Até aí, muito bacana, mas a proposta foi além. Criamos uma dinâmica de interação com perguntas focadas em cinco temas, que foram lideradas pelos membros da comissão mais especializados em cada assunto — estratégia e inovação, finanças, governança e jurídico, recursos humanos e riscos – com moderação de Geovana Donella.

A apresentação tinha como objetivos nivelar as principais informações sobre sustentabilidade, trazer fatos históricos e movimentos atuais de investidores, reguladores, bancos, bolsas e empresas, além de enfatizar a importância da liderança – CEO e conselhos – para o avanço desta agenda. Sustentabilidade tem que ser um tema transversal e interconectado, o tal EESG (Economic, Environmental, Social and Governance). Os movimentos mais recentes do mundo financeiro comprovam isso. O CEO mundial da BlackRock Larry Fink afirmou em sua carta anual aos CEOs das empresas investidas que sustentabilidade se tornaria o padrão de investimento da maior gestora de recursos do mundo. Nos corredores do Fórum Econômico Mundial de Davos, o termo mais ouvido foi “capitalismo de stakeholder”, enquanto os cinco principais riscos em termos de probabilidade, pela primeira vez na história do Relatório de Riscos Globais, publicado pelo fórum, foram ambientais.

Debatemos como essas questões podem e devem ser tratadas no conselho. Como se antecipar, ter a percepção aguçada e, muitas vezes, tomar decisões difíceis, ao considerar aspectos além dos econômico-financeiros ainda não reconhecidos como agregadores de valor. Não poderíamos deixar fora da pauta a pandemia e seus impactos, o que trouxe uma troca interessante sobre o “velho e o novo normal”. Um valioso output desta dinâmica foi o entendimento de que sustentabilidade é assunto de todas as áreas da empresa e precisa estar na pauta do conselho.

ESG, tecnologia e inovação

No atual cenário, é fundamental analisar o desempenho e as vulnerabilidades críticas das cadeias de suprimento globais, muito evidenciados pela recente crise do novo coronavírus. Muitas empresas têm recorrido à simplificação de processos e à digitalização das cadeias de valor. Pressionadas pela necessidade de isolamento social, tais respostas organizacionais têm provocado efeitos muito positivos sobre o meio ambiente, como a redução expressiva de emissões de CO₂. A integração crescente de tecnologias acopladas aos processos organizacionais pode colaborar, decisiva e positivamente, para o amplo espectro dos temas ESG, além de contribuir para expandir as economias locais, por meio da redução de riscos e custos operacionais, viabilizando novas ofertas de produtos e serviços mais customizados.

ESG e a parte econômica

Há uma crescente influência e importância da parte “ES” (ambiental e social) do ESG. O “G” (governança) sempre teve seu papel de destaque, mas com foco no papel da liderança do conselho e sua composição. Em recente artigo chamado “EESG, o novo ESG, Sonia comenta que “para realmente transformarmos o jeito de fazer negócios, produzir, investir, consumir e nos comportar, precisamos trazer o “E” do econômico para dentro, junto, incorporado aos fatores ESG. Não podemos correr o risco de ser visto como alguém de um mundo “paralelo”.  A transparência de informações vem aumentando ao longo do tempo, junto com a demanda por investimento responsável. Temos que falar de uma agenda que coordene ações econômicas, novos instrumentos econômicos e novas regulações.

ESG e as práticas de governança

Empreendedores, sócios e administradores em geral têm a difícil missão de equilibrar estratégias de sobrevivência e compliance com normas que mudam a todo momento. Outro desafio consiste em equalizar a função social da empresa em um contexto de incertezas e escassez de recursos, sem reduzir padrões de integridade. Para muitas organizações, o momento tem exigido interação frequente com órgãos públicos para acesso a pacotes de incentivo e compreensão de legislação específica para o período de exceção. Neste cenário, o conselho deve colaborar com a manutenção da cultura ética organizacional zelando pela defesa das melhores práticas de governança.

ESG e a responsabilidade social

O mundo corporativo está diante de um enorme desafio, a solução dos graves problemas globais não pode ser deixada exclusivamente para o poder público. É urgente que as corporações se envolvam e passem a ter um papel ativo na busca e na implementação de soluções. As empresas precisam estar mais atentas às necessidades da sociedade e não apenas aos interesses fiduciários de seus acionistas. Uma nova postura por parte das empresas só vai acontecer se seus respectivos conselhos estiverem conscientes dessa necessidade.

ESG e riscos

O entendimento da ESG transita também pela saúde populacional. A saúde em qualquer parte do planeta está associada ao acesso a serviços básicos como água tratada, coleta e tratamento de esgoto. Ao diagnosticar ESG reconhece-se o valor da saúde e que enfermidades evitáveis como as epidemias de dengue, zica e atualmente Covid-19 estão associadas à forma como se interage com o meio ambiente. A governança corporativa propõe o correto balanceamento do atendimento às partes envolvidas e não justifica o descaso com que os administradores das empresas de saneamento atendem às cidades. O desafio que esta pandemia nos deixa é a necessidade de uma “consciência sanitária”

O CA e o ESG

O conselho de administração e seus membros devem sempre provocar reflexões à luz da sustentabilidade e, sendo assim, sempre atentar aos pontos de:

1) Prevenir que as áreas de riscos tragam os cenários gerais para análise;

2) "Respirar¨primeiro e ter a visão, olhar de como deve trafegar e seguir em frente;

3) Dar conta integralmente das questões sociais que permeiam a organização – a vida como ela é e dialogar com o propósito efetivo da companhia;

4) Ter lealdade ao ESG;

5) Incluir a inovação e tecnologia em todos os contextos do ESG;

6) Não compactuar com marketing enganoso, mas com propagandas responsáveis e honestas;

7) Mostrar efetivamente ao que viemos, assumindo integralmente a missão do conselho no contexto do ESG;

8) Ativismo constante junto aos stakeholders;

9) Colaborar para o aumento do interesse genuíno e verdadeiro do ESG;

10) Banir qualquer transgressão de leis ou práticas que não compactuem com o ESG;

11) Considerar a criação do comitê de sustentabilidade como apoio ao conselho;

12) E, por fim, exercer o papel da responsabilidade do CA na integração de todas as questões de ESG e na incorporação da questão econômica, fechando as dimensões para o EESG. Além de mobilizar, cada vez mais, a sociedade para pressionar as empresas a ganhar luz com a sustentabilidade.


*Sonia Favaretto é convidada e membro da Comissão de Sustentabilidade do IBGC. Alessandra Hohne, Artur Neves, Célia Barbosa Assis, Geovana Donella, Paulo Feldmann, Ricardo Lamenza são membros da Comissão de Conselho de Administração do IBGC. Thomas Brull é coordenador do grupo.

Este artigo é de responsabilidade dos autores e não reflete, necessariamente, a opinião do IBGC.

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