Governança de empresas familiares no enfrentamento de crises econômicas

Artigo detalha os principais desafios das famílias empresárias em períodos críticos de gestão

  • 03/07/2020
  • *Autor Convidado
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Em tempos de incerteza, é fundamental saber gerenciar riscos e momentos de crise em diferentes escalas. Para que o empresário saia quase ileso das adversidades em momentos críticos, é preciso envidar esforços para tornar a empresa familiar o mais profissionalizada possível. Crises, em regra, são eventos não previsíveis que promovem a desarticulação dos planos de estabilidade da companhia. Significa dizer que a previsibilidade de eventos dessa natureza precisa fazer parte do mindset do empresário, seja ele, jovem ou não. Seja ele, familiar ou corporativo.

Dessa maneira, a luta para sobreviver aos impactos sociais e econômicos de uma crise como a pandemia da Covid-19 não é tarefa para amadores, tampouco para aquele tipo de empresário autoritário que desconhece uma administração multifatorial de padronização de protocolos, os quais conferem regularidade de ação e reação às operações empresariais. Em tempos de crise, o mercado é bom para uns e péssimo para outros. Enquanto alguns empresários lutam para administrar a queda nas receitas, outros experimentam um ballonnement no upgrade da demanda de seus produtos ou serviços, desencadeando um refluxo logístico no gargalo de suprimentos e atendimento da rede de consumo.

Nesse cenário, as empresas familiares possuem relativa vantagem, pois sua arquitetura administrativa lhes permite executar ações em frentes diversas, enfrentando simultaneamente aspectos críticos a que estejam submetidas. Contudo, é preciso ter em mente que a empresa é um ente a parte, diferente de seus proprietários. Esses, quando estão à frente da gestão geral de uma empresa, possuem um “poder” inerte até que a zona de conforto em que estão assentados seja afetada, quando esta zona é estimulada, naturalmente há uma reação.

Nas adversidades que estimulam a reação de saída ou manutenção da zona de conforto, o proprietário pode alterar todas as rotinas e demais aspectos de funcionamento de uma organização. E aí está o perigo. Alterar regras de tomada de decisão, reduzir ou elevar ativos patrimoniais, transformar as métricas utilizadas para aferir resultados, bem como, os métodos de compartilhamento de dados, pode ser um verdadeiro suicídio empresarial. É preciso acompanhar planos estratégicos bem definidos, com a clara finalidade de proteger a saúde gerencial da empresa.

Dessa forma, o empresário familiar, submete-se ao sucesso ou ao fracasso contando apenas com a sorte. Essa é a razão pelos elevados índices de encerramento de empresas e abertura de falências em tempos de crise. É certo que esses direitos inerentes à propriedade pertencem ao empresário, no entanto, o exercício cuidadoso deste poder, potencializado em períodos críticos, é fundamental para a estabilidade econômica e social da empresa.

A grande diferença das empresas corporativas de capital aberto é que, enquanto aquelas mantêm foco na maximização de lucros para os acionistas, os quais detém parcela do poder de decisão da organização, nas empresas familiares, os lucros têm por finalidade manter fundamentalmente a subsistência da família empresária e das famílias de seus colaboradores. É nesse sentido que a paciência, a visão sistêmica e a capacidade de planejamento estratégico do empresário são testadas. Isto é, na crise é que o empresário demonstra sua capacidade de compreensão analítica e de gestão e que, não raras vezes, começam simultaneamente devido à ausência de planejamento estratégico preventivo empresarial adequado.

Além disso, a transparência, honestidade e austeridade no compartilhamento de dados com os stakeholders é uma postura essencial e estratégica. Lembre-se do tone at the top, o exemplo vem de cima. Essa dinâmica se assemelha a um carro desgovernado quando se acrescenta outros dois fatores, a ansiedade; o medo do empresário, e a insegurança de todos que estão em sua órbita, desafiando sua capacidade de lidar com a situação individualmente.

Ser empresário no Brasil não é tarefa para amadores ou iniciantes. É preciso controle e planejamento versátil para enfrentar as cargas tributárias e as adversidades provocadas por inúmeros outros fatores, qualquer deficiência nesses aspectos engessará o processo decisório e provocará uma espiral de conflitos na empresa.

Sobre o autor

É associado do IBGC, doutorando em Ciência Jurídica pela Universidade do Vale do Itajaí (Univali) e mestre em Direito pela Universidade de Caxias do Sul. O advogado também é membro da Academia Catarinense de Letras Jurídicas e procurador jurídico da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) em Santa Catarina.

Este artigo é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do IBGC.

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