Conselho deve orientar CEO para assegurar inovação

Executivos enfrentam desafio de conciliar problemas impostos pela crise econômica com urgência da transformação digital

  • 14/06/2019
  • IBGC
  • Bate-papo
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Daniel Motta, CEO da consultoria Blue Management Institute (BMI), será um dos palestrantes do  Encontro de Conselheiros do IBGC. O evento ocorre no próximo dia 24, em São Paulo

O avanço acelerado da tecnologia e o surgimento de modelos de negócios disruptivos colocam a inovação como prioridade em todos os setores econômicos. No Brasil, a urgência da transformação digital também pressiona os executivos, mas a implantação de planos de inovação esbarra nos desafios diários para enfrentar a crise econômica. “O sistema econômico direciona as lideranças para entregar eficiência de custo e redução de dívida. Isso, às vezes, distrai a organização dos seus objetivos de longo prazo”, explica Daniel Motta, CEO da consultoria Blue Management Institute (BMI), um dos palestrantes do 7º Encontro de Conselheiros, que acontece no dia 24 de junho, no Hotel Grand Hyatt, em São Paulo. Esse conflito entre resolver os problemas de curto prazo com preocupações  com a transformação digital aparece nos resultados da pesquisa anual da BMI sobre os desafios das lideranças no Brasil.

As lideranças estão conscientes sobre a importância da transformação e a necessidade de se preparar para implementá-la nas empresas. No estudo do ano passado, realizado com 101 executivos de 87 empresas, promover mudanças nas posturas dos líderes para as constantes mudanças aparece no topo do ranking dos seus principais desafios, citado por 22% dos respondentes. No entanto, adaptar-se à transformação digital e estimular a inovação aparecem apenas no sexto e décimo lugares, respectivamente, citado por 10% e 4% dos entrevistados. Motta fala sobre o papel do conselho no balanceamento das estratégias de curto e longo prazo das empresas e os desafios impostos à diretoria executiva na implantação da transformação digital nas empresas.


Na pesquisa anual da BMI sobre os principais desafios das empresas no desenvolvimento das lideranças, adaptar-se à transformação digital e estimular a inovação não aparecem no topo das preocupações dos executivos. A inovação e a transformação digital não são prioridades para os executivos brasileiros?

A pesquisa captura as preocupações do momento. Os executivos estão muito pressionados para entregar resultados de curto prazo em um contexto de crise econômica. Os dados da pesquisa deste ano não devem ser muito diferentes. O sistema econômico direciona as lideranças para entregar eficiência de custo e redução de dívida. Isso, às vezes, distrai a organização dos seus objetivos de longo prazo. A transformação digital e a inovação são temas atuais por questões de sobrevivência. Houve uma mudança de paradigmas tecnológicos. A internet e a digitalização das coisas fizeram com que os ciclos de negócios acelerassem. Neste momento, a organização precisa se desafiar e se transformar. A gestão de mudanças passou a fazer parte da agenda de todas as organizações. O conselho de administração entra para ajustar e calibrar a atuação do CEO na priorização dos resultados e das estratégias de curto e longo prazo.

Quais são as maiores dificuldades enfrentadas na implantação das estratégias de longo prazo?

A transformação das organizações não é fácil de ser executada. As mudanças não são triviais e suaves por uma simples razão: as pessoas estão acostumadas a fazer as coisas de uma determinada maneira, por hábito ou por terem um mapa mental estabelecido para a execução das tarefas. Outra questão importante é a disputa de poder. Quando você transforma as organizações, as relações de poder mudam. Sempre existem forças contrárias ao processo de transformação.

Como enfrentar esses obstáculos?

O conselho e a liderança executiva precisam movimentar as forças contrárias à transformação para que elas não bloqueiem os processos de mudança. Para isso, temos três elementos fundamentais: o alinhamento rem relação ao cenário futuro, a mobilização de toda organização com as estratégias e o comprometimento na execução dos planos. O maior desafio do conselho é o alinhamento e o direcionamento das estratégias, pois existe pouca clareza sobre o futuro. O colegiado precisa lidar com um mundo volátil, incerto, complexo e ambíguo [sigla VUCA, em inglês]. Muitas transformações falham porque não se sabia aonde se precisava chegar. Este direcionamento, muitas vezes, é flexível, pois a rota precisa ser alterada no meio do caminho. 

Como é a atuação do conselho e da diretoria nos outros desafios para a transformação?

Para conseguir a mobilização, as pessoas precisam estar confortáveis com o processo de transformação, percebendo que o resultado será vantajoso para todos. Quando se transforma uma organização, as pessoas perdem as referências e ficam ansiosas. O desafio das lideranças, nesse sentido, é dar segurança psicológica. Se isso não acontecer, as pessoas podem desistir no meio da jornada. Para alcançar o comprometimento com a transformação, o terceiro elemento fundamental, os executivos precisam apresentar planos exequíveis e que seja possível monitorar a sua evolução. O compromisso das pessoas é conquistado com a proposição de ações práticas e concretas, que podem ser observadas e mensuradas pelo grupo que vai executar as ações. Cabe ao conselho monitorar de forma mais próxima a execução dos planos e pedir para fazer ajustes quando necessário.

Qual é o perfil do conselheiro que consegue liderar a transformação?

O conselheiro precisa ter versatilidade intelectual, entender de diferentes temas. O olhar deve ir muito além do lado operacional e financeiro da empresa. Estamos falando de conhecimentos de sociologia, antropologia, psicologia e ciências. O conselheiro tem que entender o comportamento e a dinâmica social, além de perceber as mudanças na sociedade. O comportamento individual também precisa ser compreendido para que as motivações e questionamentos internos do indivíduo sejam considerados nos processos de transformação. O membro do conselho precisa conhecer tecnologia e entender as evoluções tecnológicas. O colegiado deve estar conectado a redes de relacionamento ecléticas para conseguir captar e catalisar insights para ajudar o time de gestão nos processos de inovação.

Os conselheiros estão conseguindo se transformar?

Tenho como premissa que toda pessoa consegue aprender coisas novas e se reinventar. Portanto, é possível o conselheiro se transformar. Os profissionais precisam se atualizar com conhecimentos novos. O próprio conselho também deve ser oxigenado com pessoas com perfis distintos. Conselhos que transformam exigem diversidade, caso contrário, não se consegue maximizar o aumento de conhecimento e a oxigenação de ideias dentro do colegiado.

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