A sociedade vem mudando rapidamente, já que a tecnologia gera consequências para o futuro das profissões e dos relacionamentos. Essas mudanças também impactarão a forma de atuação dos conselhos de administração
Estávamos em uma reunião de conselho, uma das primeiras naquela empresa, quando em um dos intervalos um dos sócios nos contou como a decisão de investir em uma nova unidade foi tomada há cerca de 20 anos. O investimento foi um sucesso e é, hoje, uma das principais fontes de receita e resultado da empresa. Horas mais tarde, ao refletir sobre como foi tomada de decisão, comentei com meu colega conselheiro o que ele teria feito naquela ocasião e naquelas circunstâncias. Nossa conclusão foi que, provavelmente, não teríamos aprovado tal investimento.
Essa discussão sobre como os conselhos tomavam decisões no passado, tomam decisões hoje e tomarão no futuro está diretamente ligada à reflexão de nossa comissão sobre conselhos do futuro. O IBGC, atento a essas mudanças, decidiu criar um grupo de trabalho (GT) para fazer uma reflexão estratégica de como deveriam ser os conselhos do futuro.
Nossa visão de futuro
Como os conselhos de administração e seus temas serão afetados individualmente pelas principais tendências até 2030?
Impactos no conselho
Quais serão os impactos que as tendências mapeadas terão sobre os conselhos do futuro como um todo e considerando o tema específico?
Em um primeiro instante, desenvolvemos um mindmap com todas as ideias, que logo evoluiu para uma matriz det e temas. A riqueza, tanto do mindmap, como da matriz, nos deixou entusiasmados com o que estaríamos prestes a discutir e desvendar.
Como será a essência dos conselhos e sua capacidade de influenciar não só as empresas, mas todo o entorno e a sociedade: o “futuro se faz no presente”
As principais tendências identificadas foram:
• Balanço entre propósito da empresa vs retorno do investimento (ROI) para acionistas
• Democratização no acesso à informação
• Tecnologia e digitalização
• Velocidade e volatilidade (ciclos mais curtos de mudança)
• Ativismo
• Relação com conhecimento
Já, como temas que deverão receber maior atenção, destacam-se:
• Composição do conselho, perfil e competências (na formação, desenvolvimento e qualificação dos membros) e prazos e critérios de renovação
• Dinâmica de trabalho, dedicação e disponibilidade de agenda, e processo de phase in & out de conselheiros
• Papeis e responsabilidade dos conselhos, atribuições dos conselheiros e relacionamento com stakeholders
• Atuação do conselho na gestão e gerenciamento de riscos, compliance, ética, conduta e conflito de interesses
• Avaliação, reconhecimento, remuneração e recompensa – contribuição e desempenho
Nós, conselheiros, precisamos estar atentos às mudanças, ajudando as empresas a se manterem atualizadas e tomarem decisões de maneira ágil e segura, em um mundo cada vez mais disruptivo e com inovações constantes.
Como foi o passo-a-passo do grupo de trabalho:
• Consensamos uma matriz abrangente e que cobre os temas que consideramos fundamentais nas boas práticas de um conselho e as principais tendências que vão influenciar estes temas daqui em diante. Esta matriz continuará a ser revisada e melhorada. É nosso ponto de partida, mas com certeza irá passar por mudanças e novos questionamentos e estará em constante evolução. Afinal, uma de nossas tendências trata exatamente de velocidade e volatilidade das mudanças.
• Também consensamos que de nada adiantam as reflexões, se não forem seguidos os princípios básicos que envolvem ética, integridade e caráter dos conselhos e seus membros. “Ética e integridade são aspectos inegociáveis de um conselho no passado, presente e futuro”.
• Este artigo fala de como chegamos até aqui, como definimos os temas e as tendências. Ele será a base dos artigos seguintes onde avançaremos os debates com tendências que irão formar novos conceitos sobre os temas tratados.
Nos próximos capítulos trataremos de cada uma das tendências e temas principais. Não deixem de acompanhar o desenrolar desta reflexão sobre tão promissor futuro.
Este artigo é de autoria de Ricardo Lamenza, participante do grupo de trabalho (GT) Conselho do futuro do IBGC. Seu conteúdo é de responsabilidade do autor e não reflete, necessariamente, a opinião do instituto.