Ensaio de Friedman sobre livre mercado faz 50 anos

Responsabilidade social de empresas é só gerar lucro: equívoco ou verdade inconveniente?

  • 18/09/2020
  • Ana Paula Cardoso
  • Pelo Mundo

Prêmio Nobel de Economia de 1976, o economista americano Milton Friedman ficou mundialmente conhecido por um ensaio publicado no New York Times. Intitulado “The Social Responsibility of Business is to Increase Its Profits” (numa tradução livre, "A Responsabilidade Social dos Negócios é Aumentar Seus Lucros"). O texto completa 50 anos neste conturbado ano de 2020. Em meio à pandemia da Covid-19, às discussões sobre ser o momento do capitalismo de stakeholders - e não unicamente de acionistas - e todas as questões de ASG (ambiente, sociedade e governança), a defesa de Friedman tinha tudo para ser considerada ultrapassada.

No entanto, o aniversário do ensaio, que ficou conhecido como o “manifesto do livre mercado”, tem despertado uma série de discussões em torno do tema. Especialmente porque alguns especialistas apontam a existência de uma legião de seguidores das premissas “friedmanianas”. Um dos exemplos é o recente artigo publicado do New York Times, intitulado “What Milton Friedman Missed About Social Inequality" (O Que Friedman Esqueceu Sobre Desigualdade Social), assinado por Leo E. Strine Jr. ex-presidente da Suprema Corte de Delaware, membro ilustre da faculdade de direito de Columbia, e Joey Zwillinger,  o co-fundador e CEO da Allbirds.

Strine Jr. E Zwillinger são categóricos em afirmar os pontos “esquecidos” por Friedman na sua defesa de que a base de uma sociedade livre seria deixar as empresas agirem de acordo com suas maiores habilidades: responsabilidade de fornecer empregos, eliminar a discriminação, evitar a poluição, entre outras. Na visão dos autores do artigo publicado no jornal americano, porém, o acúmulo de riqueza foi o maior resultado deste capitalismo de livre mercado. A desigualdade social teria frutificado mais do que a própria consciência social das empresas, tão defendida por Friedman.

Mas o artigo desencadeia em uma saída: aproveitar o momento de mudanças geradas pelas restrições sanitárias para as empresas refletirem sobre como reverter o paradigma de Friedman. E isso só se conseguiria definindo metas tangíveis e publicamente articuladas com os interesses dos stakeholders e da sociedade como um todo.

Ao se comprometerem com objetivos de cidadania responsável, as empresas permitiriam que as partes interessadas, os investidores institucionais e o público os responsabilizem por seus ideais inclusivos. E esse mesmo público poderia fazer girar a roda do capitalismo através, principalmente, do consumo consciente. Ou seja, garantindo também o lucro das corporações.

Algumas empresas estão no caminho, apontam Strine Jr. E Zwillinger. Mas ainda há muito chão a percorrer, segundo os autores, até que o ensaio de Friedman seja considerado um equívoco, e não mais uma verdade insistente e inconveniente.

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