Para Zeina Latif, sem Trump, pandemia pode resgatar o multilateralismo

Fórum de Debates do IBGC analisa os efeitos da crise da Covid-19 na economia do Brasil e do mundo

  • 29/06/2020
  • Equipe IBGC
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“A crise do novo coronavírus já resultou em muitas perdas sociais e ainda vai cobrar um preço muito alto em todo o mundo”, segundo a avaliação da economista Zeina Latif. Na sexta-feira (26 de junho), o Fórum de Debates do IBGC recebeu Zeina e o professor Paulo Roberto Feldmann, da Universidade de São Paulo (USP), para debater os efeitos econômicos locais e internacionais da pandemia. O encontro on-line foi exclusivo para associados do instituto.

No entendimento da economista, a crise sanitária tem escancarado as fraquezas de governos populistas em muitos países, o que poderia fortalecer e resgatar as agendas multilaterais. “Uma eventual derrota de [Donald] Trump nas eleições abriria uma renovação, um resgate do multilateralismo. Um acidente [a crise] que poderia trazer surpresas, ainda que não no curto prazo”, afirmou.

Ela alertou ainda que, apesar dos juros negativos e da liquidez internacional, os investidores estrangeiros ainda estarão muito seletivos em relação aos países de destino de suas alocações. “Eles vão preferir economias maduras e farão poucas apostas em emergentes. No Brasil, só histórias redondas e projetos bem definidos atrairão esses investidores, não será um dinheiro fácil”, disse. 

Em meio ao crescimento das dívidas das famílias e dos déficits fiscais dos governos na crise, Feldmann apontou o redirecionamento industrial como um fator relevante nesse momento. “Como ficou difícil importar, muita gente vai querer fabricar no Brasil, o que pode ser uma coisa boa”, apostou. No entanto, na visão do professor, parte dos empregos criados a partir desse cenário seriam ocupados por equipamentos de automação e robôs, em linha com o que tem acontecido no exterior. 

Feldmann ressaltou que vê o protecionismo europeu, que cresceu desde o início da pandemia, como um fator de possíveis e fortes perdas para o Brasil. Além disso, ele apontou que uma eventual quebra de bancos na Europa também poderia gerar um problema das dimensões da crise do subprime de 2007. Para ele, as questões de desigualdade e pobreza deverão avançar no Brasil, além do desmatamento. Ambos serão fatores de risco de imagem do país no cenário internacional. “Temos que tomar cuidado com o protecionismo europeu e cuidar muito bem do nosso relacionamento com a China”, alertou.

Como oportunidade de crescimento econômico local, o professor citou o uso das pequenas e médias empresas brasileiras como uma estratégia de políticas públicas. “Esses negócios poderiam ser bons geradores de empregos, assim como acontece em muitas cidades da Europa. No Brasil, as PMEs [pequenas e médias empresas] representam 27% do PIB [Produto Interno Bruto]. Na Itália, elas representam 65%. Isso precisa ser observado”, completou.

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