Independência, protagonismo e influência

Como alavancar estas habilidades a partir de uma Learning Community

  • 26/10/2020
  • Debora Brocker
  • Artigo

Quando pequena escutava a velha piada do senhor que ensinou o seu cachorro a assobiar. E ao ser perguntado se poderia demonstrar o feito, o senhor calmamente respondia: eu ensinei, mas ele não aprendeu.

A evolução do ensino tem singrado o caminho do aprendizado efetivo de forma inovadora nos últimos tempos. Enquanto o aprendizado era limitado e circunscrito por área de conhecimento (cálculo era apenas aprendido por engenheiros, literatura apenas por profissionais de letras), criou-se o contraponto do aprendizado integrando várias áreas do saber, que veio para fazer evoluir tanto empresas como escolas. E neste caminho de evolução chegamos ao aprendizado colaborativo, comunitário, participativo, que instiga, que influencia, conhecido por Learning Community (ou comunidade de aprendizado). Sendo colaboração uma das palavras-chave deste contexto, compartilho aqui a minha experiência ao participar do Learning Community do IBGC, com foco na inovação que inspira a governança e na governança que, por sua vez, habilita a inovação.

Estamos vivendo em uma época em que tudo está mudando rapidamente. As regras do jogo empresarial, político e social estão mudando. A ciência e a tecnologia estão mudando. A geopolítica está mudando. E se tudo muda rápido, o aprendizado também tem que mudar para ser mais ágil. Para muitos a aprendizagem começa com algo que é conhecido, para em seguida ser transmitido para alguém que não sabe disso. Mas para os projetos em que estamos envolvidos atualmente esse processo simples não funciona mais.

Na maioria das vezes, o que precisamos aprender ainda não é percebido por nós. Considere que o nosso saber cabe em três caixas: o que eu sei; o que eu não sei; e o que eu não sei que eu não sei. O que eu sei e  o que eu ainda não sei podem ser atendidos pelo sistema de ensino atual. Porém, a terceira caixa é a que mais me instiga (para não dizer que é a que mais me preocupa!), justamente por não estar consciente do seu tamanho e nem da fonte para pesquisar e responder as questões sequer formuladas. E é por isso que precisamos de um novo modelo de aprendizagem.

Com base no artigo Promoting and assessing value creation in communities and networks: a conceptual framework (Wenger-Trayner, 2011), aprendi que aprendizado tem um ciclo próprio de evolução, e que ter consciência disto nos leva a um patamar além do aprender em si: o de realizar o que aprendeu. O framework apresentado no livro se concentra no valor produzido pela aprendizagem social. Uma comunidade de aprendizado é um ciclo virtuoso positivo e sem fim. A comunidade realiza o seu potencial nas pessoas e nos ativos, ressignifica os relacionamentos e cria influência em caminhos emergentes. Permita-me compartilhar este framework criado pelo aprendizado social de forma resumida:

1) Valor imediato: é o valor pela simples participação em um grupo. Comporta o simples encontro com pessoas, a apreciação mútua de eventos comuns, o pensar junto, a celebração num happy hour (vale também happy hour  virtual, de preferência com um cálice de vinho!), o inspirar e se sentir inspirado pelos outros.  O simples evento de ouvir a história de outra pessoa pode abrir a nossa mente para novas perspectivas. E estar com outras pessoas que entendem o nosso desafio pode ser um alívio. 

Foi neste ciclo inicial que já experimentei o primeiro aprendizado: a importância da minha participação com independência, sem vieses sociais ou de profissão. 

Foi fácil migrar de uma modelo de ensino numa sala de aula onde o conhecimento fluía de 1:N para uma comunidade de aprendizado no modelo N:M, visto o anseio da minha geração em colocar na mesa a experiência de muitos anos de trabalho e contribuição. Não apenas conteúdo didáticos, mas também experiências vividas na intensidade de cada um são compartilhados durante cada encontro. Posso afirmar que a serendipidade deste ambiente é o ponto alto de deleite de novos conceitos e do discernimento para aplicá-los nos mais variados temas.

 2) Valor potencial:  é o valor das novas ideias, novos insights, novas perspectivas, um novo artigo, um novo contato. Ainda não sei se vai ser útil ou não para mim no futuro, mas já está posto em minha mente e nas minhas anotações.

Aqui consegui estabelecer contatos interessantes para interações futuras. Também aprendi muito com conselheiros experientes nos temas de inovação e governança. Além disso, também exerci um protagonismo importante ao participar da criação de uma metodologia de aprendizagem social.

3) Valor aplicado: é o valor das ideias experimentado no meu ambiente, profissional ou pessoal. Por exemplo, reutilizando um plano de estratégia, explorando sinergia entre unidades de negócios, mudando um procedimento, testando uma sugestão, ou mesmo envolvendo membros de sua rede para uma causa. Colocar algo em prática é também um processo muito criativo. Envolve muito aprendizado e, por sua vez, gera novos conhecimentos.

Voltei para as minhas pranchetas de desenho de negócios futuros e revi tudo. O aprendizado das discovery lenses proveu insights interessantes de como implementar as minhas ideias de inovação e de como ampliar a minha influência. Também abriu o leque de possibilidades para o meu desenho de futuro adicionando uma carreira acadêmica e a criação de uma startup de governance office

4) Valor percebido:  é o valor que perceptivelmente produziu melhoria de desempenho. É a aplicação do conhecimento em ações e experimentações. É importante não simplesmente assumir que melhorou o desempenho, mas também refletir sobre quais efeitos da aplicação do capital deste conhecimento realmente impactaram na solução final.

Neste ciclo percebi a importância de técnicas importantes no meu planejamento estratégico, tanto pessoal como profissional. São eles: Discovery Lenses, JTBD (Job to be done), visão de perspectivas, análise das ortodoxias e descontinuidades, VNA (Value Network Analysis), e, o que para mim foi o mais significativo, o poder da influência nos grupos e a significação desta influência nos meus projetos e nos projetos dos outros membros da comunidade. Como resultado estou trabalhando em outros subgrupos desta comunidade IBGC em temas de ESG, e com outros grupos externos em termas de Branding, Startups e Inovação.

5) Valor realizado: é o valor como resultado de toda essa cadeia de eventos.  Este último ciclo de criação de valor é alcançado quando a aprendizagem social causa uma reconsideração dos critérios pelos quais o sucesso é definido. Isso pode incluir propor novas métricas de desempenho que reflitam a nova definição de sucesso, a redefinição de sucesso de estratégias, modelos de negócio, clientes e em possíveis novas descobertas. 

Minha nova definição de sucesso após participar desta Learning Community é estar fortemente atuante no network criado com pessoas influentes na área de governança corporativa, e me certificar como conselheira de administração focada em Inovação.  

E este ciclo é infinito. Quer o resultado seja um sucesso ou um fracasso, precisamos estudar e dar o nosso feedback, porque é uma informação importante que levará a um maior aprendizado. Erros e acertos devem igualmente serem reconhecidos e celebrados – “failure is success in progress”. Esses feedbacks criam loops que são uma dimensão fundamental do modelo. O aprendizado tem que ir até a prática e depois voltar para o início do ciclo. E depois voltar a praticar. São esses loops de aprendizagem que a tornam relevante, adaptativa e dinâmica.

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É possível integrar este ciclo de aprendizado em todas as fases de um projeto - do planejamento à implementação e avaliação. Se estamos planejando um projeto, podemos usar o framework para organizar conversas com vários interessados - definir aspirações e decidir quais condições precisam ser implementadas. E se estamos executando um projeto, podemos usar os ciclos para projetar atividades e narrativas para criar ciclos de feedback contínuos. E se estamos avaliando um projeto, podemos usar o framework para estruturar a coleta e análise de dados. Podemos ainda acompanhar os indicadores em cada ciclo e usar narrativas para atribuir resultados às atividades do projeto.

O novo mundo que emerge é muito mais colaborativo, diverso, variável, flexível, criativo e dá espaço para muito mais inovações.  Estou absolutamente consciente do poder de um aprendizado em comunidade para nos tornarmos cada vez mais independentes, protagonistas e influentes neste novo contexto.

Autora:

Debora Brocker é executiva com uma sólida carreira de 40 anos na indústria de Software desenhando e gerenciando soluções de tecnologia, projetos de inovação, e Operações com atuação na América Latina e Caribe. 

Este artigo é de responsabilidade da autora e não reflete, necessariamente, a opinião do IBGC.

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