A COP28, sigla para 28ª Conferência das Partes sobre mudanças climáticas da Organização das Nações Unidas (ONU), será realizada em 2023 entre os dias 30 de novembro e 12 de dezembro, dessa vez em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos. E neste ano, o IBGC será representado por Cristina Pinho, membro do conselho de administração, e Sandra Morales, gerente de impacto socioambiental.
Nesse aquecimento para a cúpula que vai debater assuntos cada vez mais urgentes, o Blog IBGC entrevistou Natalie Unterstell, presidente do instituto Talanoa, que falou sobre as perspectivas para a COP28 e sobre o evento que a antecedeu, a 14ª edição da Semana do Clima de 2023, realizada entre 19 e 25 de setembro em Nova York. Natalie, inclusive, esteve recentemente no 24º Congresso IBGC, na breakout session “Mercado de carbono: a quem interessa?”. Acompanhe o bate-papo:
Quais foram os principais compromissos anunciados na Semana do Clima, em setembro desse ano?
Natalie Unterstell: Dessa vez, o foco mudou: em vez de anúncios e promessas, o que se destacou foi o accountability, isto é, as demonstrações de que o prometido está sendo entregue, com responsabilidade. Os principais eventos – inclusive a primeira Cúpula da Ambição Climática, convocada pelo secretário-geral da ONU, colocaram a barra da implementação lá no alto. Teve país que perdeu espaço de fala por não conseguir comprovar avanço na implementação de suas metas climáticas. Por outro lado, foi positivo que o Brasil tenha retomado seu lugar na política climática internacional.
Na Semana do Clima, o governo brasileiro apresentou o Plano de Transformação Ecológica. Como você vê o momento do país nas discussões mundiais sobre o clima?
Há enorme expectativa em relação à reconstrução das políticas ambientais brasileiras e ao papel que o Brasil poderá desempenhar na diplomacia climática nos próximos anos. Precisamos “surfar bem essa onda”, mostrando que estamos fazendo a nossa descarbonização e somos parceiros confiáveis para outras nações.
O que de mais importante será discutido na COP28?
São dois os principais assuntos. Primeiro, energia – tanto as metas de energia renovável e de eficiência energética quanto as de eliminação gradual de combustíveis fósseis. A meta de limitar o aquecimento global a 1,5 graus Celsius não está fora de alcance, e atingi-la requer ação decisiva na transição energética. Segundo, o chamado Global Stocktake, que instiga o progresso coletivo em relação aos objetivos do Acordo de Paris. Dado que estamos distantes do que precisa ser feito em termos de mitigação, adaptação e financiamento, na COP28 os países terão de decidir como corrigir o curso.
Quais as expectativas da COP28 relacionadas a ações mais concretas do que as que se observam na atualidade?
Na COP28, avanços concretos podem ser alcançados através de um conjunto de ações e abordagens claras:
1. Atuação governamental ativa: os governos devem liderar ativamente essa transição, não dependendo apenas dos mercados. Isso significa estabelecer regulamentações sólidas e criar um quadro político consistente, para que o setor privado opere de forma sustentável.
2. Compromissos do setor privado: os compromissos voluntários desse setor desempenham um papel crucial para impulsionar a ambição climática e comunicar as suas expectativas às autoridades governamentais. No entanto, esses compromissos devem estar vinculados a mecanismos de responsabilidade, não sendo apenas declarações vazias.
3. Transição de combustíveis fósseis para energias limpas: a campanha "Fossil to Clean", lançada na Semana do Clima de Nova Iorque pela Coalizão We Mean Business, oferece princípios e diretrizes para diferentes setores, como empresas de petróleo e gás, empresas de suprimentos, setor financeiro, governos e empresas demandantes. O foco principal deve ser trabalhar em estreita colaboração com as empresas demandantes.
4. Metas Operacionalizáveis de Energia Renovável (REN) e Eficiência Energética (EE): é importante concentrar esforços na definição de metas claras de REN e EE que possam ser implementadas com facilidade, e que estejam diretamente relacionadas com as Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs).
Em resumo, a COP28 deve se concentrar em ações governamentais, estabelecimento de mecanismos de responsabilidade, transição de combustíveis fósseis para energias limpas e metas de REN e EE operacionalizáveis, para assim avançar efetivamente no combate às mudanças climáticas. O recado de Nova Iorque foi claro: há um impulso crescente em torno do objetivo de triplicar a capacidade de energia renovável e dobrar a eficiência energética. Isso destaca a importância de direcionar esforços concretos para alcançar essas metas na COP28, juntamente com as outras ações mencionadas anteriormente.
Qual o papel dos conselhos de administração na condução das ações climáticas?
Os conselhos de administração têm a responsabilidade de garantir que as empresas atravessem os “mares turbulentos” de um planeta mais quente e de clima mais instável. Os desafios são muitos e as oportunidades, também. Para alguns, há riscos existenciais – é o caso dos que precisam reinventar seus modelos de negócios à luz dos cenários climáticos. Para os demais, há riscos físicos, de transição e de reputação, e que devem ser reconhecidos e gerenciados de forma transparente e estratégica. Os conselheiros precisam guiar os caminhos.
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