Pesquisa traz apontamentos sobre realidade de governança em empresas familiares

“Maior parte começa com conselho consultivo, mas é necessária a formalização”, comenta Carlos Mendonça, da PwC, responsável pela pesquisa junto ao IBGC

  • 21/08/2020
  • Bárbara Calache
  • Bate-papo

Transparência, conflitos de interesse e plano de sucessão estão entre as temáticas que permeiam as discussões sobre governança entre empresas familiares. A fim de entender a realidade da governança nessas organizações, o IBGC e a PwC realizaram a pesquisa Governança em empresas familiares: um estudo qualitativo, que acaba de ser publicada e está disponível no Portal do Conhecimento. 

Segundo Carlos Mendonça, sócio e líder de serviços para empresas familiares da PwC, a pesquisa abrange empresas familiares de capital fechado, que são a maioria no mundo. “Não tínhamos visibilidade sobre muitas delas, embora sejam muito importantes para a economia e desenvolvimento do Brasil, e nos animou conhecer a realidade da governança nessas empresas”, conta.

O estudo aponta gatilhos, desafios e soluções de governança corporativa para empresas familiares, bem como abrange os temas de gestão não familiar, conselhos, conflitos e sucessão. Entre as constatações, Mendonça aponta que toda empresa nasce pequena e, à medida que evolui, são necessárias ferramentas para a administração do negócio. “É preciso criar processos e um deles é governança”. Em entrevista para o Blog, ele revela algumas conclusões. Confira: 

Qual o peso da governança para a empresa familiar em sua visão?

Carlos Mendonça: A governança é o processo de profissionalização e o aprimoramento da administração do negócio. Não necessariamente significa que a família deve deixar o negócio, mas são necessários processos para sustentar os interesses, que deveriam ser pautados por colocar os melhores jogadores em cada posição, independentemente da família. Quando há governança, há um processo decisório mais colegiado.

Quais as constatações iniciais sobre a jornada de governança nessas empresas?

A maior parte das empresas, em algum grau, tem algum princípio de governança, que normalmente começa por meio da criação de um conselho consultivo. Mas é importante estabelecer a formalização, com a estrutura e fluxo de informação para tomada de decisão. Criar um conselho sem ter processos, frequência adequada de reuniões e análises, pauta estabelecida, entre outros, pode levar a frustrações. Por outro lado, a estruturação tende a promover a evolução.

A sucessão é um dos temas muito discutidos quando se trata de empresas familiares. Quais os apontamentos nesse sentido?

Muitas vezes, o fundador da empresa familiar é avesso a isso. Criou um negócio fantástico, que evoluiu, e ele está acostumado a tomar decisões de uma forma solitária. Nesse sentido, constatamos que, há casos em que a sucessão em empresas familiares ocorre em decorrência de eventos inesperados, o que é preocupante, pois muitas podem deixar de existir por não terem planejado a sucessão. Esse plano não compreende somente pensar na aposentadoria, mas em contingência para a ausência inesperada do líder membro da família que está conduzindo os negócios. 

Qual a importância das novas gerações nesse processo?

Normalmente, os membros mais sêniores da família, que tomam as decisões, não possuem muito interesse na estruturação da governança e sucessão. Com isso, as novas gerações têm um papel muito importante como indutores desses tópicos, por meio da educação e influência sobre os membros mais sêniores, colocando a governança em pauta. E é um processo que não ocorre de uma hora para outra. 

Conflitos familiares também foram tema da pesquisa. Há algum apontamento?

A história nos mostra que empresas familiares, em alguma geração, tendem a ter conflitos familiares que podem comprometer a perenidade dos negócios. As estruturas dessas organizações envolvem emoções, poder, capital e é muito importante que regras e a estrutura de governança sejam estabelecidas. Muitas vezes, as famílias acreditam que não precisam desse passo. Mas é justamente nesse momento que é importante estruturar a governança, pois uma vez que o conflito se estabelece, é muito difícil de criar as regras. Se todos os envolvidos estabelecem essas diretrizes e aprovam em conjunto, é mais simples de resolver questões de conflito que venham a se materializar.

Para abordar os resultados da pesquisa, bem como promover a troca de informações, cases e experiências, foi iniciado o Ciclo de Conversas | Governança corporativa em empresas familiares, uma parceria do IBGC, PWC e FBN, cujo primeiro de quatro encontros ocorreu na quinta-feira (20). Veja a nossa programação de eventos e participe.





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