Sucessão familiar: publicação do IBGC traz conceitos e elementos fundamentais para transições

De acordo John Davis, professor da Cambridge Family Enterprise Group, famílias que não se atentam ao planejamento sucessório correm o risco de se tornarem beco sem saída

  • 19/08/2020
  • Bárbara Calache
  • Eventos

Com as mudanças observadas nos últimos anos e intensificadas pela pandemia, entre elas, de padrão de consumo e de comportamento, fica evidente que disrupções serão cada vez mais frequentes, especialmente para organizações. Nesse cenário, em que a mudança é imperativo, a sucessão passa a ser um tema ainda mais relevante para perenidade dos negócios. A fim de apoiar instituições familiares nessa jornada, o IBGC acaba de lançar, durante evento na terça-feira (18), a publicação Sucessão em Empresas Familiares, desenvolvida pela equipe do instituto e integrantes da Comissão de Empresas de Controle Familiar, com patrocínio da Domingues Advogados. 

Entre as mudanças na sociedade, John Davis, professor da Cambridge Family Enterprise Group, reforça as diferenças geracionais que podem afetar os negócios familiares. Segundo ele, ao mesmo tempo em que há executivos adiando a aposentadoria, as novas gerações anseiam por assumir papéis de liderança cada vez mais cedo. “O desafio é como as empresas irão manter as equipes mais novas engajadas, sendo que os líderes não pretendem deixar o jogo. Precisamos entender que a sucessão irá ocorrer de forma diferente do que no passado, mas ainda assim, é possível se preparar”, comenta. 

Beatriz Johannpeter, membro da Comissão Empresas de Controle Familiar do IBGC, reforça a importância da preparação e estruturação da governança. “Se a empresa não constrói o planejamento de sucessão, a próxima geração pode não conseguir sustentar o negócio”, pontua. Nesse sentido, como apoio à preparação das organizações, a publicação traz desde o conceito de sucessão, considerando diferentes contextos de organizações familiares, até dimensões de sucessão de negócio, família e propriedade e elementos de governança fundamentais para transições assertivas. “A publicação fala bastante do processo. Não é somente uma passagem de bastão”, acrescenta Beatriz Johannpeter. 

Além dos aspectos técnicos, a publicação abrange o âmbito emocional envolvido quando se trata de sucessão familiar.  “A sucessão lida com medo de morte, aspiração de quem quer entrar na empresa e a frustração de quem não foi escolhido. Enquanto o tempo do negócio exige agilidade, o tempo das pessoas é outro ritmo, e temos que saber como balancear esses ritmos. É importante fazer o questionamento: coloco a família à frente do negócio ou o negócio prevalece?”, aponta Olga Stankevicius Colpo, membro da Comissão Empresas de Controle Familiar do IBGC.

Os participantes do evento, moderado por Maria Tereza Gomes, CEO Jabuticaba Conteúdo, concordam que a tarefa não é fácil, mas é necessária para que os negócios perpetuem. “Fundadores podem ser muito apegados, assumindo diversos chapéus nas organizações. É difícil ceder o espaço, mas deixar o operacional e passar para o modelo de família empreendedora pode ser uma oportunidade para alavancar o negócio”, diz Beatriz. Para isso, engajar os jovens das próximas gerações é apontado como essencial. “É importante envolver mais membros, com diferentes papeis e gerações, alinhados pelos propósitos da família e da organização”, diz.

Estruturação de governança e sucesso na transição

Na Cerradinho, empresa familiar que atua há 47 anos setor sucroenergético, o processo de sucessão foi iniciado, há muitos anos, de forma abrupta. “Meu pai faleceu muito cedo e meu irmão, então com 21 anos, assumiu a direção. Três anos mais tarde, também perdemos esse irmão e o caçula, de 18 anos, passou a ocupar a gestão dos negócios”, comenta Andrea Sanches Fernandes, que ingressou com 22 na gestão operacional da empresa e hoje é membro de conselho de administração, conselho de acionistas, conselho de família e comitês de apoio do grupo Cerradinho. 

Entre erros e acertos, o negócio cresceu ao longo dos anos e a empresa iniciou a estruturação da governança em 2008, passando pela governança familiar em 2015. “Nós, membros da família, deixamos a gestão, passamos para o conselho e contratamos um CEO do mercado. Foi uma sucessão planejada. Hoje, temos uma governança bem estruturada e madura. Foi importante trazer um modelo de gestão que suportasse a empresa”, conta. Andreia ainda comenta sobre sua experiência e amor pelo negócio. “No meu caso, respirava usina e foi importante elaborar esse processo de forma consciente. Nós quisemos e buscamos a sucessão planejada, diferente da primeira, que foi uma fatalidade. Entendemos que geraríamos mais valor para o negócio na posição estratégica”, diz.

Terceira geração, co-presidente do conselho de família e conselheira de administração do Grupo Cornélio Brennand, Maria Eduarda Brennand fala dos desafios e acertos na sucessão do grupo familiar. Em 103 anos de história, o grupo observou o crescimento do negócio e foram necessárias revisões, não somente de portfólio e da marca, mas de estrutura. “Alguns desentendimentos entre a família culminaram em uma crise societária que levou à cisão. Além disso, por 85 anos, mulheres da família e seus filhos não podiam trabalhar na empresa, somente homens e seus filhos homens. Chegou o momento em que entendemos que o mundo havia mudado, que a forma que conduzimos o negócio até então não fazia mais sentido”, conta.

A solução, encabeçada pelo conselho de família do grupo, ativo há 30 anos, foi estabelecer a governança corporativa, com regras e papeis estabelecidos.  “Precisávamos de gente com visão estratégia no conselho de sócios, de administração e de família. Profissionalizamos a gestão e os membros da família passaram para o conselho societário, de administração e familiar”, pontua Maria. 

O processo de sucessão foi estabelecido e o grupo hoje conta com 28 sócios, incluindo mulheres da família. “Tivemos que reprogramar a cabeça das mulheres e trazer para perto os filhos e sobrinhos. Sinto emoção de dizer que agora posso fazer a diferença e escrever um pouquinho dessa história. Isso é muito legal na empresa familiar”, comemora. Ela acrescenta a importância do papel da família empresária. “Precisamos pensar primeiro no bem comum, que é o negócio. Não pode haver foco individual”, complementa. 

O evento faz parte do IBGC Conecta, uma série de eventos on-line, gratuitos, cuja curadoria de conteúdo é norteada por relevância e pela tempestividade. A publicação Sucessão em Empresas familiares está disponível no Portal do Conhecimento. Confira


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