É tempo de transformação nos negócios

Em segundo artigo da série sobre riscos globais, Marina Grossi, do CEBDS, fala sobre oportunidades para o Brasil e importância de agir no agora 

  • 11/04/2022
  • Marina Grossi, presidente do CEBDS
  • Artigo

Estamos em tempos de transformação. As imposições da pandemia de Covid-19 aceleraram uma série de mudanças, além de evidenciar a interdependência entre as mudanças climáticas e a oferta de água, alimentos e energia. O aquecimento global já provoca alterações substanciais na operação das empresas. O Relatório Global de Riscos do Fórum Econômico Mundial destacou a emergência climática, a perda de biodiversidade, as divisões sociais crescentes e uma recuperação global desigual entre os riscos mais graves. São questões no cerne da temática ESG (ambiental, social e de governança).

A emergência climática é um desafio que deve ser enfrentado em conjunto por governos, empresas e sociedade civil, como demonstram os compromissos assumidos na 26ª Conferência do Clima da ONU, a COP26, realizada em novembro de 2021 na Escócia. Quase 200 países firmaram acordos para reduzir os subsídios aos combustíveis fósseis, banir o carvão, diminuir as emissões de metano e proteger as florestas. O CEBDS, que representa quase 50% do PIB brasileiro, capitaneou o posicionamento “Empresários pelo Clima”, que teve a assinatura de 119 CEOs e de 14 entidades do setor privado, influenciando a adoção de compromissos importantes do governo brasileiro.

A valorização da biodiversidade foi um dos principais destaques da conferência, se consolidando como caminho central para enfrentar as mudanças climáticas. Para o Brasil, isso abre inúmeras oportunidades para atração de investimentos e geração de emprego e renda. Estudo do CEBDS aponta que as soluções baseadas na natureza poderão gerar até US$ 17 bilhões ao país até 2030. São ações como proteger, manejar de forma sustentável e/ou recuperar ecossistemas, especialmente com a conservação florestal, o reflorestamento e o manejo do solo e a recuperação de pastagens degradadas na agropecuária.

Incentivos financeiros a essas iniciativas têm ganhado espaço. A Coalizão Leaf é um fundo de US$ 1 bilhão que reúne empresas e países desenvolvidos para financiar iniciativas que reduzam as emissões oriundas do desmatamento. Outra iniciativa é o Floresta Viva, que pretende investir até R$ 500 milhões em sete anos para recuperar áreas florestais degradadas, formar corredores ecológicos e restaurar bacias hidrográficas. A ação foi lançada pelo BNDES, que ofertará até 50% do valor, com o restante sendo aplicado por empresas parceiras.

Investimentos verdes, como debêntures, vêm crescendo no mercado financeiro. Na América Latina e Caribe, os “green bonds” saltaram de US$ 13,6 bilhões em setembro de 2019 para US$ 30,2 bilhões em junho de 2021, segundo a Climate Bonds Initiative. Empresas brasileiras têm buscado esse mercado, como a Iguá, que emitiu R$ 880 milhões em debêntures verdes para financiar novos sistemas de água e esgoto.

Cabe às empresas, agora, enfrentar os desafios para implantar os compromissos assumidos. A agenda ESG deve ser incorporada à estratégia de negócios, engajando os Conselhos de Administração e a alta liderança nessa transformação. É um processo ainda em construção, mas com o ponto de chegada colocado: a neutralidade climática até 2050.

As empresas estão agindo. Nosso estudo “Neutralidade Climática”, lançado em novembro, identificou as principais rotas de descarbonização de 77 companhias: eficiência e substituição energética; eficiência operacional e substituição de matérias-primas; o mercado de carbono e a precificação das emissões; as soluções baseadas na natureza; e a redução de emissões na cadeia de valor e de suprimentos.

O CEBDS está preparado para auxiliar o setor empresarial. Uma das ações é o desenvolvimento de uma plataforma para as empresas alcançarem a neutralidade climática até 2050 e que servirá também para troca de experiências e conhecimento entre as companhias, inclusive em temas críticos, como as emissões do escopo 3 (cadeia de valor).

Outra importante iniciativa em curso é a Chapter Zero Brazil, que sensibiliza e mobiliza a alta gestão a abordar a mudança climática nos Conselhos e que é representada no país pelo Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC). Outro ponto que cresce em importância é a maior diversidade. Pesquisa do IBGC em parceria com o Sistema B apontou que 80% consideram a pauta importante, mas 77% não têm metas para ampliar a atuação de pessoas negras no Conselho de Administração ou diretoria. Mais de 50% também não possuem metas para aumentar a participação de mulheres nesses órgãos.

É preciso agir. As grandes oportunidades para o país virão até 2030. O Brasil não pode deixar o momento passar e deve mostrar que está realmente comprometido, sob pena de sofrer embargos comerciais, perder mercados e a oportunidade de se posicionar com uma liderança na nova economia de baixo carbono que, enfim, está emergindo.

Sobre a autora: Marina Grossi é presidente do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável, entidade que, em 2022, completa 25 anos e que reúne 85 empresas, representando quase 50% do PIB brasileiro.

Este artigo é de responsabilidade dos autores e não reflete, necessariamente, a opinião do IBGC.

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