Especialista apresenta cenários para a crise e diz que empresas devem operar num novo normal

Em webinar da série IBGC Conecta, sócio da McKinsey Elias Goraieb mostrou simulações para a reação das economias diante da pandemia

  • 26/03/2020
  • Equipe IBGC
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Ninguém sabe por ora qual a real dimensão da pandemia do novo coronavírus e ainda não é possível mensurar o impacto que terá sobre os sistemas de saúde e as economias ao redor do mundo. Mas isso não significa que não seja possível traçar cenários prováveis para a evolução dessa situação, e foi exatamente para apresentar algumas simulações aos associados do IBGC que Elias Goraieb, sócio da McKinsey & Company, participou na quarta-feira (25 de março) de webinar  sob a mediação do conselheiro independente e professor Paulo Vasconcelos.

Na abertura da conversa, Vasconcelos destacou que em apenas duas semanas foi transformada completamente a forma como as empresas são administradas — e devem continuar sendo, daqui em diante. Alguns pontos já podem ser verificados, como a comprovação da viabilidade do home office para muitas atividades corporativas, o uso massivo das ferramentas digitais nos conselhos de administração e, principalmente, a consciência da relevância das análises preditivas para a definição de estratégias nas empresas, com uso de bancos de dados, stress testing e simulação de cenários.

Ele também observou que a pandemia colocou à prova o discurso do “propósito”, tão em voga desde que há alguns meses um grupo de importantes CEOs de empresas americanas divulgou uma carta dizendo que a partir de então o foco seria transferido dos acionistas para os stakeholders. “Agora é a hora da verdade. Estamos diante de um verdadeiro teste real para o capitalismo responsável”, afirmou.

Goraieb, que na McKinsey lidera o grupo de gestão de riscos, disse que a pandemia representa um desafio sanitário sem precedentes no “condomínio chamado Terra” e que os governos mundo afora se veem diante da possibilidade de precisar “matar a economia para não matar as pessoas”. Ele apresentou simulações para a reação das economias em várias situações, e entre nove cenários destacou dois: o primeiro, de rápido e efetivo controle da disseminação do vírus; o segundo, de resposta sanitária efetiva por parte dos governos, mas com ressurgimento da epidemia.

No primeiro caso, o modelo prevê uma retração de 1,5% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial neste ano, com retorno ao nível pré-crise a partir do quarto trimestre de 2020. Na segunda simulação, a perda do PIB global atinge 4,7% e a volta aos níveis anteriores à pandemia ocorre apenas depois do terceiro trimestre de 2022. “Das simulações, essas duas são as mais prováveis”, ressaltou. Independentemente do cenário que se concretizará, Goraieb disse que todas as empresas a partir de agora devem se preparar para operar sob um novo normal.

“É uma verdadeira maratona, uma situação inédita. As empresas precisam encontrar os melhores meios para responder a esse desafio.” Inicialmente, elas devem assegurar o quanto possível a proteção a clientes e funcionários, para depois partirem para a garantia de resiliência de seus modelos financeiro e operacional. Goraieb também sublinhou a importância de as empresas pensarem na blindagem de seus sistemas contra ataques de hackers, principalmente porque muito mais janelas estão abertas. Também é necessário avaliar como garantir a manutenção da produtividade e como será o retorno depois que a crise passar. Além disso, a pandemia e a consequente crise deixarão para as empresas a tarefa de reimaginarem seus negócios. Crescerão de fato os canais digitais? As pessoas vão passar a consumir mais produtos in natura do que processados?

Há, ainda, a necessidade de o mundo corporativo dar sua parcela de contribuição no processo de retomada da economia, que pode até ficar mais saudável. Na prática, para este momento agudo, o sócio da McKinsey recomendou que as empresas montem “nerve centers”, centros de comando das ações corporativas. “Esse modelo é importante para ajudar na tomada de decisões. Hesitação pode custar muito caro”, afirmou.

Essa instância central pode coordenar as ações de curto prazo (como o resguardo dos empregados, por exemplo) e de longo prazo (como a flexibilização da capacidade de produção), ao mesmo tempo em que assegura a proteção da imagem corporativa e organiza a agenda de saúde financeira. Em termos de cultura e governança corporativa, Goraieb disse que o “experimento ao vivo” imposto pela pandemia pode sim provocar mudanças duradouras, principalmente nos modelos de liderança (pode ficar claro que liderança a distância funciona bem), nas premissas para medição de sucesso e na dinâmica das contribuições dentro das equipes e grupos.


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