“Boards devem exigir que empresas divulguem seus riscos climáticos”

Para Nigel Topping, uma das presenças internacionais do Encontro de Conselheiros, Brasil pode liderar agenda climática global

  • 25/06/2021
  • Ana Paula Cardoso
  • Bate-papo

Como os conselhos de administração podem contribuir para evitar as alterações climáticas, através da adoção de boas práticas de governança corporativa? Esta é uma das questões a serem abordadas no próximo Encontro de Conselheiros IBGC, que acontece nos dias 29 e 30 de junho.  E Nigel Topping, UK's High-Level Climate Action Champion – COP26, é um dos convidados. 

Em sua plenária, ele falará sobre os preparativos da COP 26 e abordará as políticas energéticas atuais ao redor do mundo. Sobre o Brasil, a pauta será o uso da terra e o papel do país na economia global, uma vez que se trata de uma das nações com maior biodiversidade do mundo. Para Topping, o Brasil precisa se reposicionar na agenda climática global. 

“O país tem um grande potencial para liderar esta agenda em muitos setores. Entre eles:  produção de alimentos e agricultura, energia, transportes e varejo”, disse em entrevista ao Blog do IBGC. Durante o bate-papo ele também falou como o objetivo de zerar as emissões líquidas de gases de efeito estufa até 2050 deve ser trabalhado à luz das boas práticas de governança corporativa. Veja a seguir a entrevista na íntegra.

Blog do IBGC. Na sua opinião, quais são os pontos críticos que o Brasil e as suas empresas devem abordar em termos de alterações climáticas e de medidas de combate às emissões de carbono?
Nigel Topping. O Brasil precisa se reposicionar na agenda climática global. O país tem um grande potencial para liderar est agenda em muitos setores, tais como produção de alimentos e agricultura, energia, transportes, varejo. Há necessidade de ambição e ação, com transparência e colaboração entre atores não estatais, incluindo autoridades regionais, seguindo o exemplo mais recente de liderança do Governo de Minas Gerais, primeira região da América Latina a juntar-se à Race to Zero em junho deste ano. 

O que o país precisará fazer para se reposicionar?
As soluções baseadas na preservação da natureza desempenham um papel crítico no Brasil, é isso que ele vai precisar explorar. É importante inverter a perda de biodiversidade e deter imediatamente a deflorestação ilegal - uma vez que esta é a principal fonte de emissões.  E, finalmente, espera-se que o Brasil apresente uma estratégia nacional clara para a implementação da NDC (na sigla em inglês, Contribuição Nacionalmente Determinada do Brasil perante o Acordo de Paris) que seja orientada para o mercado e inclua mecanismos de apoio à implementação, tais como um mercado nacional de compensação de carbono.

Como os conselhos de administração podem contribuir para evitar as alterações climáticas, através da adoção de boas práticas de governança corporativa?
Ao exigir das empresas a divulgação dos seus riscos climáticos e a promoção de decisões ambiciosas na estratégia climática a longo prazo, os conselhos de administração desempenham um papel crucial na gestão a longo prazo do desempenho das empresas. Este papel vai assegurar que as suas empresas estejam preparadas e aptas a enfrentar os riscos das alterações climáticas - e a tirar partido das oportunidades criadas. 

Pode dar exemplo de como isso poderia ser feito?
Parte das boas práticas de governança corporativa inclui estabelecer compromissos claros baseados na ciência, permitindo a colaboração pré-competitiva ao longo do caminho. Outra forma é trabalhando a sua defesa para alterar as regras do jogo, de modo que o ambiente regulamentar, normativo e legislativo, se alinhe com os desafios sociais e ambientais do Brasil. O ambiente institucional precisa ser favorável a uma nova economia de carbono zero, mais resiliente e líquida. E ainda:  abraçar a mudança não linear e trazer vozes provocadoras (para o ambiente corporativo).

Quais são as principais questões que pretende trazer para o Encontro de Conselheiros IBGC deste ano?  
Discutiremos como as principais questões de hoje terão impacto no futuro próximo (2040), a importância das agendas sociais e ambientais para a governança e os desafios e oportunidades da viagem rumo a um futuro de emissões líquidas zero de gases de efeito estufa, antes de 2050. Farei uma atualização sobre os últimos números das nossas duas principais campanhas: Race to Zero e Race to Resilience e como os atores brasileiros estão envolvidos, bem como a estratégia para atores não-estatais, na COP26. 

E qual considera ser a mensagem mais importante a ser deixada aos membros dos conselhos de administração das empresas brasileiras?
Para os realizadores não-executivos brasileiros que procuram a próxima etapa da sua viagem para desembarcar nos seus conselhos de administração do futuro, tenho quatro recomendações:
1. Certifique-se de que a sua empresa adere à Race to Zero, estabelecendo um ponto de partida e objetivos baseados na ciência. E depois, um plano claro que seja operacional e que possa ser compartilhado com os seus investidores a curto prazo.  
2. Caso já tenha feito a etapa anterior, então comece a analisar as colaborações setoriais - em muitos casos já existem, mas se não, então comece uma!
3. Reaprenda a sua matemática exponencial, para que possa detectar mudanças não lineares que se aproximam. E torça que sua capacidade de detecção de mudanças seja mais rápida e melhor do que a de seus concorrentes. 
4. Finalmente, questione-se: o seu negócio abraça as oportunidades e enfrenta os riscos das alterações climáticas?