Iniciativa do Fórum Econômico Mundial visa a estabelecer
cultura de responsabilidade ambiental nas empresas
Buscar a adoção, por parte das empresas, dos princípios para uma efetiva governança climática. Assim pode ser definida a principal tarefa do Chapter Zero, uma rede global de organizações independentes que mobilizam membros do corpo empresarial e conselheiros para abordar o desafio da mudança climática em conselhos de administração. Organização que nasceu sob a coordenação do Fórum Econômico Mundial, hoje passou a ser secretariada pela Universidade de Cambridge. No Brasil, o IBGC já aceitou o convite de ser o braço nacional desta iniciativa.
Para Silvio Dulinsky, responsável pelo setor privado da América Latina no Fórum Econômico Mundial, a parceria com o IBGC é fundamental. Não somente por reunir os principais conselheiros de administração, mas pela experiência do instituto em fomentar culturas relevantes e disruptivas.
“Entre outros, o papel do IBGC é desafiar os conselhos de administração para que tenham uma visão aspiracional. Ou seja, evitar retrocesso e fazer avançar o tema, incluindo-o na agenda estratégica”, disse Dulinsky. Segundo ele, nesse sentido há um alinhamento muito grande entre a pauta do instituto e do Fórum Econômico Mundial
Primeiro sensibilizar, depois engajar
Ele associa a experiência disruptiva do instituto mencionando o caso da própria governança corporativa - tema fomentado há 25 anos pelo IBGC, quando ainda era considerado assunto exclusivo de países desenvolvidos. Para Dulinsky, a agora é hora de evoluir no tema do meio-ambiente. E a evolução vai se concretizar quando for possível estabelecer objetivos mais ambiciosos e visionários para os conselheiros, no que tange às questões climáticas.
“Os conselheiros já sabem que se trata de um tema importante, mas eles ainda têm dúvidas de como agir e o que cobrar nos conselhos”, explica Valeria Café, diretora de vocalização e influência do IBGC. Valeria conta que o instituto avança na criação de estabelecer grupos de trabalho dedicados a ESG e Chapter Zero.
Mas antes de partir para uma formação pura e simples, com cursos sobre um tema que ainda está incipiente na mentalidade dos conselheiros, existe um trabalho de criar o que a diretora chama de um ecossistema. “O IBGC está na fase de se debruçar sobre o conteúdo ambiental para estruturar a parceria – já aceita – na prática. Fazer pesquisas e desenvolver conteúdos de forma mais aprofundada são maneiras de sensibilizar os conselheiros para depois engajá-los”, concluiu Valeria.
O Chapter Zero no mundo
Mas o que vem a ser o Chapter Zero e como ele funciona? Diferente do Brasil, onde entra de braços dados com o IBGC, em outros países são organizações independentes, da sociedade civil. O marco do Chapter Zero ocorreu em 2019, na reunião daquele ano do Fórum Global de Davos, quando foi publicada uma carta com a lista de princípios da iniciativa, que são:
• Princípio 1 - Responsabilidade climática nos conselhos
• Princípio 2 - Comando do tema
• Princípio 3 - Estrutura do Conselho
• Princípio 4 - Avaliação de oportunidades e riscos materiais
• Princípio 5 - Integração estratégica
• Princípio 6 – Incentivos à ação
• Princípio 7 - Relatórios e divulgação
• Princípio 8 - Troca
Silvio Dulinsky, do Fórum Econômico Mundial, ressalta que cada empresa vai adotar o seu ritmo de implantação. “Não necessariamente precisa adotar os oito princípios de uma vez e nem da forma exata como estão na carta, mas o que se busca é que essa discussão tenha lugar nas pautas do conselho de administração”, lembrou Dulinsky.
Realizando uma série de atividades com objetivo mobilizar executivos e conselheiros, educá-los e informá-los sobre os desafios relacionados com mudança climática, o Chapter Zero age em linha com a TCFD (Força-tarefa para Divulgações Financeiras Relacionadas às Mudanças Climáticas, na sigla em inglês).
Entre as iniciativas já adotadas por grandes empresas internacionais, destaque para a integração dos objetivos de mudança climática na remuneração dos executivos. “O trabalho do Chapter Zero está inserido neste conceito de capitalismo de stakeholders. Ou seja, a responsabilidade dos conselhos e dos executivos frente aos seus stakeholders como um todo e não somente os acionistas”, completou responsável pelo setor privado da América Latina no Fórum Econômico Mundial.