Temas ambientais, sociais e de governança ganham importância apesar de apenas 13% dos boards terem práticas robustas de supervisão
Mesmo com o crescente entendimento sobre a importância de questões ambientais e sociais por parte dos conselhos de administração das companhias, dados da organização não governamental ambientalista Ceres apontam que 62% das organizações declaram ter supervisão sobre as questões de sustentabilidade no conselho, mas apenas 13% apresentam práticas robustas a esse respeito.
O tema é abordado no paper “Mudança de paradigma da sustentabilidade: O papel do conselho nas questões ASG”, elaborado por integrantes da Comissão de Sustentabilidade do IBGC. A publicação cita dez ações que podem demonstrar a proatividade do conselho de administração diante dos temas ambientais, sociais e de governança (ASG). Veja quais são os exemplos:
1) Solicitar estudos de exposição a riscos ambientais e sociais, tais como risco climático, risco hídrico, de padrões de consumo e tendências regulatórias;
2) Avaliar a integração de temas ambientais e sociais à matriz de riscos corporativos das organizações;
3) Discutir oportunidades para captação de recursos por meio de linhas de crédito ou títulos orientados para o financiamento de questões ambientas e sociais, como green bonds, energia renovável, recomposição florestal, financiamento para cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), idealizado pela Organização das Nações Unidas (ONU), entre outros;
4) Orientar a elaboração de relatórios periódicos que contenham informações ambientais e sociais, como o relatório anual e/ou de sustentabilidade, os reportes regulatórios, as apresentações institucionais e a comunicação com os investidores e o mercado;
5) Estabelecer metas de desempenho ambientais e sociais para a organização e os dirigentes;
6) Estar atento às parcerias institucionais, que podem ser relevantes para a estruturação de negócios, até mesmo junto ao mercado de capitais;
7) Atuar na institucionalização de melhores práticas de relacionamento com stakeholders, identificando riscos e impactos e orientando a adoção de mecanismos de mitigação e aprimoramento dos relacionamentos com a cadeia de valor das empresas;
8) Orientar a empresa na assinatura de compromissos setoriais e acordos voluntários. Iniciativas dessa natureza podem implicar mudança de processos e práticas da organização. Considerar o ciclo de vida dos produtos e serviços de forma sistêmica para o entendimento dos riscos e dos impactos socioambientais;
9) Compreender os questionamentos do mercado de capitais. No papel de intermediários entre os acionistas e a empresa, é importante que os conselheiros estejam cientes das tendências desse mercado na elaboração e no monitoramento da estratégia das companhias;
10) E, por fim, atentar às mudanças no padrão de consumo de produtos e serviços da companhia, especialmente em relação às tendências referentes ao meio ambiente e ao consumo consciente.
Responsabilidade como critério de seleção
Para além dos avanços nas áreas de gestão e estratégia das empresas, as considerações ambientais e sociais têm aparecido como ponto crucial para as estruturas de capital das companhias, figurando cada vez mais como critério para concessão de crédito, redução de custos de captação e decisão de investimentos no mercado financeiro e de capitais, sugere a publicação.
Na avaliação da Comissão do IBGC, motivações como gestão de riscos, geração de oportunidades de negócio e tendências regulatórias também aparecem como motivações para o engajamento das empresas em relação a temática. O estudo da Ceres indica ainda que 18% das companhias já discutem questões de sustentabilidade nos conselhos, comitês de risco ou de auditoria, o desafio está no peso que essas discussões têm ante as questões tradicionais do negócio. O artigo do Comissão ressalta que o Código Brasileiro de Governança Corporativa – Companhias Abertas sinaliza como dever dos conselheiros “garantir que os temas da sustentabilidade estejam vinculados às questões estratégicas, aos processos decisórios, aos impactos na cadeia de valor e aos relatórios periódicos”.
De acordo com o Código, o conselho de administração pode atuar proativamente, por meio de ações como solicitar estudos de exposição a riscos, além de pedir avaliação da integração de temas de sustentabilidade à matriz de riscos corporativos das organizações ou discutir oportunidades para captação de recursos por meio de linhas de crédito ou títulos orientados para o financiamento de questões sociais e de sustentabilidade. “Olhar para esse tema não é apenas uma tendência de mercado: é uma condição para a execução da estratégia e para a longevidade da companhia”, diz trecho do artigo.
A conclusão da publicação está baseada na capacidade dos conselheiros de avaliar questões relevantes para a empresa. Para isso, a recomendação é que o colegiado esteja preparado em relação a temas sociais e ambientais de modo que direcione a companhia para um desenvolvimento estratégico de curto, médio e longo prazos.
Assinam a redação do artigo Tatiana Assali, Edina Biava, Melissa Porto Pimentel, Ana Gati, Ruth Goldberg, Tarcila Ursini, Denise Hills, Guilherme Almeida Tangari, Carlos Rossin e Roberta Simonetti.
Quer saber mais sobre questões ambientais e sociais em conselhos? Leia a íntegra do paper no Portal do Conhecimento.