"Empresas devem adotar transparência desde o lançamento"

Gabriela Bonotti, diretora do Quintessa, fala sobre aceleração de negócios de impacto e de empreendedorismo focados em ESG

  • 28/05/2021
  • Ana Paula Cardoso
  • Bate-papo

Quando se pensa em startup e scale-up, vem logo à mente uma empresa voltada para garantir as vendas e não deixar morrer o negócio. Nesse contexto, como garantir uma cultura de governança corporativa desde o início?  “A transparência pode começar a ser praticada por startups e pode mitigar riscos futuros”, diz Gabriela Bonotti, diretora do Quintessa, uma aceleradora de negócios de impacto, com foco em estruturar a gestão de empresas em fase de expansão e impulsioná-las ao crescimento.

Por ano, a Quintessa alcança cerca de 30 acelerados, no chamado modelo individualizado. Quando somados os acelerados pelos programas corporativos em parcerias com grandes empresas, institutos e fundações, a média sobe para 100 empresas aceleradas anualmente.

Gabriela conversou com o Blog do IBGC sobre os negócios de impacto, que estão alinhados com os valores ESG (ambiental, social e governança). Ela falou sobre o perfil das empresas que geram negócios de impacto positivo para o Brasil. E ainda contou como as empresas inovadoras podem se engajar na jornada de governança. Veja a seguir a entrevista na íntegra.

IBGC. O propósito da Quintessa é o de transformar a realidade do país por meio de negócios de impacto. O que são considerados negócios de impacto?
Gabriela Bonotti. Negócios de impacto são aqueles negócios que nasceram com a missão explícita de endereçar um problema social ou ambiental.  São aqueles nos quais o produto ou serviço gera impacto positivo direto no meio ambiente ou na sociedade. Por exemplo, uma das empresas das quais fomos a aceleradora é um curso de inglês voltado para população de baixa renda. Então, uma escola de línguas com preço adequado à base da pirâmide vai promover a acessibilidade ao mercado de trabalho. Pois sabemos como hoje é importante falar idiomas para ter empregabilidade e gerar renda. 

O que vocês levam em consideração para tornarem-se aceleradora de uma startup?
Priorizamos as empresas que têm um impacto mais relevante para o Brasil. Aquelas com modelos de negócios mais alinhados e promissores para atuar na transformação do país. 

Quais são os desafios na aceleração de novas empresas?
Cada empreendedor tem uma lacuna num lugar diferente. Existem aqueles que são muito técnicos no produto oferecido ou serviço prestado, mas precisam desenvolver melhor a gestão da empresa. Por exemplo, já tivemos um caso de um empreendedor com muito conhecimento para desenvolver práticas ambientais, com programas de reciclagem de resíduos super bem estruturados, mas que de tinha muita dificuldade com a gestão financeira da empresa.  Ou mesmo um outro empreendedor que dominava o marketing digital  mas o gargalo dele era na operação do negócio. Justamente por conta disso, fazemos um diagnóstico antes da aceleração começar, para entender quais são os pontos importantes de serem resolvidos prioritariamente para cada negócio.

Qual caminho para uma startup ou scale-up começar seu empreendimento já pensando em governança?
A Quintessa se aproximou do IBGC em 2019. A gente inclusive recomenda muito o Caderno de Governança Corporativa para Startups & Scale-ups do IBGC em nossos programas de aceleração. A publicação funciona como uma cartilha para apoiar a jornada do empreendedor. Claro que quando se ouve sobre governança corporativa vem à mente todo um arcabouço de estrutura que, de fato, acaba não sendo a prioridade dessas empresas que se encontram em estágio inicial. Elas estão começando e precisam focar em gerar caixa e conquistar seu nicho de mercado o mais rápido possível, para consolidar a startup no mercado e entender qual modelo de negócio garantirá seu crescimento futuro. Ao mesmo tempo, há algumas decisões que se não forem tomadas no início da jornada empreendedora, poderão ser mais caras no futuro.

E quais são os pontos da jornada de governança que considera mais críticos para serem desenvolvidos nestas empresas?
Escolher bem os sócios e fazer acordos entre os sócios , de forma bem clara. A definição de papéis responsabilidades é outro ponto bem crítico. E um outro ponto muito importante para a Quintessa, e que anda junto com a governança corporativa, é a transparência. Não estou dizendo para a empresa que está começando já informar publicamente o valor da remuneração dos sócios. Mas preparamos a cabeça do empreendedor para ele já se acostumar a uma gestão mais aberta, participativa e transparente possível.