Imagine um destes maiores centros de eventos da cidade de São Paulo, com mesas para um almoço com centenas de pessoas, seguindo todas as normas sanitárias e controles necessários. Isso não era o diferencial de evento de premiação que recentemente participei, mas sim o fato destas cadeiras e mesas estarem entre vários caminhões, carretas, VUCs e outros artigos ligados ao setor de transportes. Alguns destes caminhões eram elétricos, outros tinham painéis solares à base de gás e outros híbridos. Alguns participavam de projetos sociais de envio de materiais para locais distantes e outros de projetos ambientais para a diminuição do carbono.
Todo este cenário foi visto no final de novembro do ano passado, no prêmio Maiores&Melhores do Transporte 2021. Juntamente ao evento, também foi realizado o 7º Prêmio de Sustentabilidade Sindicato das Empresas de Transportes de Carga de São Paulo e Região, em parceria com a revista Transporte Moderno, que possui quatro categorias: responsabilidade social, gestão econômica sustentável, responsabilidade ambiental e responsabilidade na segurança viária e do trabalho.
Para deixar mais tangível como foi este evento, temos os exemplos das duas empresas finalistas na categoria de responsabilidade social. Elas apresentaram projetos muito interessantes ligados ao S do ESG das organizações, um deles, ligado à inserção de jovens infratores no mercado de trabalho e outro, com o objetivo de minimizar as condições de pobreza de pessoas em situação de vulnerabilidade, por meio da doação de alimentos e capacitação profissional.
Na área ambiental, outro exemplo interessante é de uma empresa que já possui 47 caminhões da sua frota com placas solares, na parte externa do teto do baú, para economia de combustível e, principalmente, usa automação elétrica para os equipamentos de refrigeração e outros dispositivos ligados à bateria. Foram 22 empresas participantes com 33 projetos e, mais do que isso, quase todos grandes fabricantes de caminhões também estavam presentes mostrando suas ações de sustentabilidade na produção e nos serviços. Uma delas apresentou a economia circular dos seus motores, com reuso e remontagem de motores usados, valendo cashback.
Outra grande montadora mostrou como o seu VUC está distribuindo bebidas por São Paulo, por meio do uso de energia elétrica. Trata-se do mundo da logística entrando no mundo do ESG e ganhando clientes que estão pedindo para que eles possam fazer este processo. Outro exemplo que vivenciei foi no lançamento da 25ª edição do Anuário IEL/ES - 200 Maiores e Melhores Empresas no Espírito Santo, da Federação das Indústrias local, no início de dezembro, com um fórum de alto nível sobre ESG, no Centro da Estratégia de Negócios e a Diversidade, Inclusão e Equidade.
Além dos aprendizados nas falas dos representantes locais do governo, de grandes corporações e dos especialistas no debate, uma história que acabamos ouvindo na mesa de palestrantes, após o debate sobre diversidade, foi da head de uma empresa de mineração de pedras - as famosas pedreiras, cujo produto final colocamos nos nossos banheiros e cozinhas. Ela destacou a grande dificuldade de liderar uma empresa basicamente masculina. E as perguntas que ela enfrentava na empresa, por ser a líder da organização, iam desde o questionamento se era alguém da família, ou se tinha passado por algum “teste” especial. Todos comentários machistas que sabemos que existe. Este foi um substrato de um segmento que tem a questão E do ESG também bem acompanhada pelos órgãos ambientais.
E, para finalizar, uma grande organização da saúde com hospitais de referência, que tive a oportunidade de acompanhar durantes alguns dias que possui várias ações de ESG que são de ponta neste segmento. E que agora estão trabalhando ainda mais para divulgar internamente e externamente para acompanhar e liderar o mercado neste tema. Imaginem nestes três segmentos que citei neste texto e, em tantos outros, o quanto precisamos evoluir com as questões de ESG. E mais do que isso, cada vez mais é necessário ser especializado e utilizar indicadores bem definidos para cada setor específico.
Quando vemos grandes empresas trabalhando com esta temática, tentando multiplicar o ESG para os seus fornecedores primários, distribuidores e pontos de vendas, cremos num desenvolvimento para o tema. Mas a caminhada ainda é longa e precisamos agilizar para chegar nos fornecedores secundários, terciários e tantos outros. A ideia é que toda a cadeia de valor esteja no mesmo passo.
E você, na sua empresa, já começou esta jornada apoiando outras empresas?
Sobre o autor: Marcus Nakagawa é professor da ESPM; coordenador do Centro ESPM de Desenvolvimento Socioambiental (CEDS); idealizador e conselheiro da Abraps e da Plataforma Dias Mais Sustentáveis; palestrante sobre sustentabilidade, empreendedorismo e estilo de vida. Autor dos livros: Marketing para Ambientes Disruptivos, Administração por Competências e 101 Dias com Ações Mais Sustentáveis para Mudar o Mundo (Prêmio Jabuti 2019).