Governança em esportes: “objetivo final não é só obter medalhas”

Para Thomas Brull, do Comitê Paralímpico Brasileiro e líder temático do IBGC Dialoga, governança na área promove inclusão e muda a sociedade para melhor

  • 24/09/2021
  • Gabriele Alves
  • Bate-papo

Ao longo do segundo semestre de 2021, o IBGC promove uma série de debates entre pares, trazendo temas da governança corporativa em setores específicos. Trata-se da iniciativa IBGC Dialoga que nesta edição reúne seis grupos organizados nos respectivos setores: Conselheiros de empresas de controle familiar; Esportes, Financeiro, Energia, Indústria e Tecnologia. Cada grupo conta com cerca de 20 a 30 associados inscritos e é conduzido por um líder temático ou conjunto de líderes, além de facilitadores profissionais.

Para falar sobre o tema “Esportes”, o Blog IBGC conversou com o líder temático Thomas Brull, presidente do Conselho de Administração do Comitê Paraolímpico Brasileiro. Formado na FGV, mestre pela FEA/USP e com MBA pela Indiana University, nos EUA, Thomas destacou o potencial de transformação social do esporte e descreveu como a governança corporativa pode fortalecer as metas da área esportiva rumo à uma sociedade melhor. Confira a entrevista na íntegra:

BLOG IBGC: Gostaria de começar com um enfoque mais geral sobre sua experiência e carreira. Como tem sido aconselhar empresas na área de esportes? 
Thomas Brull: A minha carreira foi toda desenvolvida na área de finanças e estratégia e, há cerca de 13 a 14 anos, como segunda carreira, eu foquei na governança corporativa. Fiz o curso do IBGC, em 2009, e desde então venho atuando somente com governança, seja em conselhos, comitês, dando aulas ou fazendo mentorias. Me sinto realizado, pois consigo contribuir e trocar experiências, num processo que também me enriquece. Na área de esportes, já mais tarde, há cerca de cinco anos, eu comecei a trabalhar no comitê do Rating Integra, um rating desenvolvido para que os clubes, as confederações e as federações possam fazer uma autoanálise sobre seu trabalho de governança e, a partir daí, buscarem aperfeiçoamento. Então, é desta experiência com o Rating Integra que eu comecei a me aproximar mais do esporte sob o ponto de vista profissional.

Quais são os diferenciais deste ramo?
O Esporte, como todos os segmentos, tem suas características próprias. Uma coisa que chama muita atenção é a paixão em volta dele. Todo mundo na sociedade se identifica com algum tipo de esporte, seja torcendo, praticando ou acompanhando. Outra característica é o potencial de transformação que o esporte traz. Ele realmente ajuda na inclusão social, na autoestima, na melhora da saúde. Os impactos são extremamente importantes. Isso talvez seja o aspecto mais motivador e mais bacana deste ramo.

Você é presidente do Conselho de Administração do Comitê Paraolímpico Brasileiro. Que características a área de esporte apresenta que vão ao encontro das boas práticas de governança corporativa para inclusão e diversidade?
Recentemente, eu fui convidado para participar do Comitê Paralímpico Brasileiro e essa foi a coisa mais importante que me aconteceu este ano sob o ponto de vista profissional. O esporte é como se fosse a materialização do que definimos como propósito – e isso fica ainda mais acentuado quando falamos das pessoas com deficiência (PcD). Isso traz uma mudança grande na vida das pessoas. Trabalhar como membro do comitê paralímpico e agora como presidente do seu conselho de administração é um orgulho muito grande. Além do mais, o comitê paralímpico, através do Rating Integra, percebeu que poderia melhorar sua governança e aperfeiçoar o seu conselho de administração, que passou a ser composto por cinco membros, sendo três independentes certificados pelo IBGC ou por outra entidade semelhante. Agora, é nossa chance de participar ativamente deste movimento esportivo tão cheio de propósito. Todo mundo que acompanhou a paralimpíada, que terminou recentemente, provavelmente ficou impressionado com o desempenho dos atletas. É muito importante percebermos o potencial desse grupo e sua capacidade de realização, tanto no campo profissional, enquanto atletas, quanto no pessoal. Quando estamos falando de diversidade e inclusão, temos que falar da pessoa com deficiência também.

O que o Brasil e o ecossistema empresarial podem aprender com experiências internacionais no que diz respeito às boas práticas de governança em esportes?
Como em qualquer outra atividade, na governança, a gente aprende com outros países e é por isso que o IBGC faz parte deste ecossistema que está tão difundido no mundo. Somos ouvidos, aprendemos e ensinamos, compartilhamos experiências. Na prática de governança no esporte, temos bastante a aprender. Hoje, o melhor exemplo vem da Inglaterra, um país que resolveu ter uma política de esportes e revisou as boas práticas de governança para isso. Em 1996, na Olimpíada de Atlanta, a Inglaterra ficou em 32º lugar no quadro de medalhas. Este ano, em Tóquio, foi o 4º país mais bem colocado. Esse exemplo deixa claro como uma política consistente e de longo prazo, envolvendo inclusive as boas práticas de governança, produz resultado efetivo. O objetivo final não é só obter medalhas –este é apenas o lado mais visível. Temos exemplos de que essas políticas de esporte trazem benefícios amplos para a sociedade, principalmente nos campos da saúde e da educação. Além disso, o esporte é um ótimo preparo para a vida dos cidadãos.

Como líder temático do Dialoga Esportes, do IBGC, quais são as expectativas para os debates? O que a turma pode esperar deste período de diálogo e aprendizado?
O Dialoga Esportes me entusiasma muito, porque é a primeira experiência ligando governança e esporte dentro do IBGC. E nós precisamos muito trabalhar este tema, porque somos referência em governança e o esporte é uma faceta da sociedade muito relevante, assim como o meio empresarial, as estatais e a própria governança pública em geral. Uma política mais consistente para o esporte no Brasil fará a sociedade melhor e, para que isso aconteça, a governança deste segmento tem que ser cada vez mais forte. Temos discutido isso com colegas que têm experiências ligadas ao esporte, até mesmo emocionais, por serem torcedores ou por terem praticado de uma forma mais profissional ou amadora o esporte. Discutimos patrocínio, financiamento no esporte, sistema esportivo e como a governança pode ajudar na manutenção de metas cada vez mais consistentes. Estamos pegando tração e estou muito entusiasmado com as próximas reuniões.

Para saber mais sobre o IBGC Dialoga, espaço colaborativo de reflexão criado para estimular a troca e o diálogo entre pares, acesse aqui.