Governança para equidade racial, práticas e exemplos

Consultoria Uzoma aponta a necessidade premente de educar a alta liderança e toda a organização para diversidade

  • 13/02/2023
  • Elizabete Scheibmayr e Eliane Leite
  • Artigo

Resumidamente, ESG, do inglês, Environmental, Social and Governance, refere-se a um amplo conjunto de considerações que podem impactar o desempenho de uma empresa e sua capacidade de executar sua estratégia de negócios e criar valor de longo prazo.

As empresas socialmente conscientes usam ESG para medir a sustentabilidade e o impacto social em todas as suas atividades, inclusive, fornecedores.  Embora os fatores ESG possam afetar diretamente os resultados de uma empresa, eles também podem afetar a reputação de uma empresa. Os investidores e líderes empresariais estão cada vez mais aplicando esses fatores não financeiros em suas análises, para identificar os riscos materiais e as oportunidades de crescimento de uma empresa.

Também ao falar de ESG e diversidade é importante entendermos o papel da governança na construção de estratégias e métricas, bem como a criação de valores e implantação de propósitos, para busca de diversidade. Só assim, conseguiremos um avanço real e efetivo nas políticas de diversidade dentro das organizações.

Garantir que todas as pessoas vivam em uma sociedade onde possam participar, prosperar e atingir todo o seu potencial requer reconhecer que o caminho para se chegar lá é diferente para diferentes grupos, pois partem de pontos diferentes.

Hoje, torna-se vital que as empresas pensem em melhorar o desempenho, sem perder de vista a questão racial. Principalmente, levando-se em conta que a população negra representa 56% da população brasileira.

A morte de George Floyd acelerou a discussão racial dentro das empresas e, como consequência disso, diversas delas assumiram compromissos formais de mudanças em médio e longo prazo.

Cada vez mais, as empresas estão adotando práticas com o objetivo de ser mais representativas da sociedade na qual estão inseridas. Há uma necessidade premente de educar a alta liderança e toda a organização para diversidade, pois a mudança exige uma compreensão histórica da formação da sociedade brasileira, do racismo estrutural e institucional.

Após a análise da realidade da empresa, por meio de um censo, é possível desenvolver estratégias para atrair, manter e promover talentos negros. Programas exclusivos para atração de profissionais negros, como programas de estágios e de trainees têm se mostrado bastantes exitosos. Entretanto, as ações não podem se restringir somente a esses.

Um excelente exemplo é o programa de trainee do Magazine Luiza, exclusivo para profissionais negros que, não foi o primeiro, mas gerou um impacto em toda sociedade e serviu de inspiração para outras empresas.

É necessário aumentar o número de profissionais negros em altas posições, uma vez que as pesquisas comprovam o baixo número de profissionais em cargos lideranças. Sendo que este número é ainda menor quando se fala da mulher negra.

Contratações intencionais precisam ser implementadas e, para isso, é necessária a ajuda de profissionais especializados para que as contratações efetivamente aconteçam. Reconhecer a existência de vieses no momento da contratação é o primeiro passo. A tendência é contratarmos pessoas que se pareçam conosco.

Vale destacar que vagas para cargos gerenciais não estão sendo preenchidas, pois acredita-se que os profissionais negros não estão prontos para assumir posições de maior responsabilidade, o que culmina em manobra/manipulação dos critérios de avaliações.

Programas de desenvolvimento de profissionais negros e de mentoria são ferramentas fundamentais para manutenção desses profissionais dentro das empresas.

Outra prática necessária é um olhar para a cadeia de fornecedores. As companhias precisam contratar empresas lideradas por pessoas pretas. Sendo assim, se faz necessária a revisão das práticas de contratação, entre elas o prazo de pagamento de pequenos empreendedores. Algumas empresas, como por exemplo, a Ambev, já vem trabalhando neste pilar.

Para que a sociedade alcance mais diversidade, não podemos esquecer a ponta. É é importante investir em educação e formação constante de jovens negros e de baixa renda, principalmente, após um cenário de dois anos de pandemia.

Destaca-se, os movimentos e associações que objetivam colaborar neste processo de trazer mais diversidade para dentro das empresas. Neste sentido, fazemos uma menção especial a Associação Pacto de Promoção da Equidade Racial, que tem como objetivo propor e implementar um Protocolo ESG Racial para o Brasil e promover sua adoção por empresas e investidores institucionais, contemplando ações que estimulem uma maior equidade racial – muito centrada na adoção de ações afirmativas, na melhoria da qualidade da educação pública e na formação de profissionais negros.

Finalmente, conselhos de administração mais diversos podem ajudar no desenvolvimento corporativo com a avaliação de políticas e estratégias para o cumprimento da agenda de diversidade e inclusão.


Sobre as autoras: Elizabete Scheibmayr e Eliane Leite são fundadoras e diretoras da consultoria Uzoma Diversidade Educação e Cultura, com atuação na inclusão e diversidade no mercado de trabalho.

Este artigo é de responsabilidade dos autores e não reflete, necessariamente, a opinião do IBGC.

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