Como escolher um bom presidente de conselho?

Para o Prof. Luiz Carlos Cabrera, é difícil chegar à presidência de um conselho sem ter passado pela experiência da presidência executiva

  • 18/05/2023
  • Angelina Martins
  • Bate-papo

Quais as características inerentes ao presidente do conselho de administração, tendo em vista que é o profissional responsável em fazer a ponte com a equipe executiva da empresa para que as decisões e orientações estratégicas definidas pelo conselho sejam colocadas em prática?

Com base em seus mais de 40 anos de vida profissional dedicada à gestão de pessoas e contratação de conselheiros, o Prof. Luiz Carlos Cabrera, fundador e diretor presidente da L. Cabrera Consultoria Empresarial e instrutor no curso Conselheiros de Administração, do IBGC, conversou com o Blog IBGC sobre as competências necessárias a um bom presidente de conselho de administração.

Blog IBGC: Como um profissional deve estruturar sua carreira com foco na presidência de um conselho?
Luiz Carlos Cabrera: Não basta focar a carreira na presidência; ele precisa ser percebido como tal. É muito difícil chegar à presidência de um conselho sem ter passado pela experiência de atuação como presidente executivo, o que lhe proporciona uma visão do todo, de finanças, mercado, operações. E o fato de ter exercido na área executiva uma relação hierárquica com os subordinados garante sua legitimidade de poder como presidente do conselho. Isso porque ele não é um chefe dos conselheiros, é um par e também precisa aprender a lidar com o fato de não ter mais a hierarquia para lhe dar legitimidade. O que lhe dará a legitimidade na presidência do conselho são as atitudes que lhe possibilitam influenciar o conselho.

E quais as atitudes que o presidente de conselho deve ter?
O mais importante é conseguir tirar o máximo possível de cada um dos conselheiros, fazendo com que deem o melhor de si. Outra competência, é que o profissional precisa ser um emérito articulador. Diante de um tema difícil, um bom presidente de conselho precisa costurar informações antes do processo decisório, ou seja, conversar com cada conselheiro para conhecer as opiniões e não deixar essa discussão para o encontro do colegiado. E é preciso também disciplina na condução das conversas, o que significa ter que montar e respeitar uma agenda ao mesmo tempo em que precisa incentivar que todos participem, Um presidente legitimado pela hierarquia pode até não ser competente, mas tem a legitimidade do cargo pelo seu conjunto de atitudes, pelo fato de ser agregador, puxar cada um para dar o melhor de si.

O mundo dos negócios é muito complexo. A função de presidente de conselho tem particularidades?
Temos que lembrar que cada conselho é único. Existem conselhos em que o presidente precisa ser um profundo conhecedor do negócio; em outros, nem tanto. Um presidente que conhece profundamente a aviação, por exemplo, terá mais facilidade em desempenhar seu papel de influenciar os demais conselheiros em uma empresa de aviação. No futuro, se o seu sucessor não conhecer tão bem o negócio, terá que fazer prevalecer as suas atitudes, suas características pessoais. Quando se conhece o negócio, é mais fácil despertar a confiança dos pares e ter legitimidade para coordená-los.

E no caso de conselhos de empresas familiares?
O presidente não é chefe, precisa coordenar sem dirigir. Normalmente, em uma empresa familiar, a legitimidade do poder se dá pela idade, é monástica. Em geral, é o executivo mais velho que assume a presidência do conselho. Quando essa legitimidade não se dá pela questão da idade, são consideradas características pessoais relevantes - um profissional com muito dinamismo, facilidade de comunicação e coordenação. Sem essas características, uma pessoa mais velha terá dificuldades. É preciso saber falar, perguntar e ouvir. Em geral, o próprio colegiado toma a decisão após a observação dessas características.

O senhor é membro do Colegiado de Apoio ao Conselho do IBGC (CAC-Indicação). Qual o papel deste colegiado no processo?
O CAC indica candidatos ao conselho de administração, empregando esforços de seus membros para orientar, tanto os candidatos quanto os associados, no processo de eleição de conselheiros. Hoje, para se formar o colegiado, em primeiro lugar observa-se a matriz de competências, que é vinculada ao planejamento estratégico da empresa. Depois de montada a matriz de competências por uma comissão ou comitê de indicação da empresa, buscam-se candidatos que tenham um perfil que se assemelhe a essa matriz. Independentemente do tamanho, todas as empresas deveriam elaborar sua matriz de competências.

Qual o papel da matriz de competências?
A matriz de competências é a ferramenta que permite cruzar as atribuições necessárias para a organização com o seu planejamento estratégico. Começou a ser utilizada há poucos anos e é fundamental que haja identidade entre ela e o planejamento estratégico da empresa. Até um determinado momento, o conselho era  formado por pessoas das relações do acionista controlador; o papel do conselheiro independente é recente. A matriz de competências passou a ser mais relevante quanto mais complexos ficaram os mercados e as organizações. Manter um bom presidente de conselho é ótimo caminho para se ter um bom conselho. O profissional saberá escolher os conselheiros que atendem às necessidades do planejamento estratégico da empresa e da matriz de competências. Esse é o segredo para ter um bom conselho.


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