Como pensar uma organização mais ética?

Artigo reflete sobre como disseminar práticas éticas em sociedade, a fim de cultivar organizações com boa governança

  • 05/09/2022
  • Eduardo Carvalho
  • Artigo

A ética é o ramo da filosofia que se dedica a compreender o comportamento humano e o que orienta as suas condutas. É a ciência da verdade e do bem comum. A palavra ética deriva do grego ethos que significa o lugar onde se vive junto. Assim sendo, é necessário ter modos, princípios e valores de conduta para que essa convivência preserve a integridade. Seja uma família, uma empresa, uma sociedade, um país. O objetivo da ética é tornar a convivência social pacífica, íntegra e justa, através das atitudes individuais ou coletivas. Ela orienta a capacidade de decidir, julgar, avaliar, para responder perguntas como: Posso, quero e devo? E também para refletir: Esta ação é legal? Está de acordo com os valores universais? Como aparecerá nos jornais? Se achar que é errado, não faça. Se não tiver certeza, pergunte. Continue a perguntar até obter resposta.

A ética está na decisão. É a partir dela que tudo acontece. É o fundamento de família, organização e sociedade virtuosas. A ética não deve ser um ato de conveniência. Tudo vale para conseguir o que estou desejando. A “ética da conveniência” é utilitarista. Cai no ditado popular “a ocasião faz o ladrão” que fere princípios como a decência e a honestidade. Uma pessoa ética deve ter discernimento e coragem para fazer o que é correto, considerando valores universais. Não deve votar com a maioria, ser consciente que está cometendo um ato antiético que prejudicará uma pessoa, uma organização, uma comunidade, um país. É também importante refletir sobre as omissões, as atitudes não tomadas, as escolhas feitas pela ausência. E ser consciente que indivíduos antiéticos formam famílias, organizações, sociedades doentes. O mal não integra, estabelece uma união precária, baseada no medo, gerador de traição.

Uma organização ética é requisito básico para a excelência da imagem institucional. É norteada por estratégias e negócios éticos. A comunicação é clara, construtiva, dignificante e coerente com práticas. Os relacionamentos são respeitosos e o ambiente é de confiança entre funcionários, alta administração, fornecedores e clientes. É formada por pessoas íntegras, que foram selecionadas e formadas por líderes éticos e competentes, qualidades que são a essência do bom comportamento.

Por outro lado, a liderança por indivíduos de caráter impróprio e/ou incompetente tem efeito desmoralizador sobre a maioria das pessoas que colaboram com a organização. Dizer-se “ético”, mas incompetente é um contrassenso, pois a incompetência gera injustiças, contrárias à consciência ética. Um líder antiético não inspira seguidores, mas sim peças manipuláveis a serviço de seus interesses egoístas.  A constatação do desrespeito aos padrões éticos pode solapar a confiança dos colaboradores na capacidade da alta administração de prover liderança ética. Indica que o processo de seleção ignorou a avaliação do caráter moral dos candidatos.

Essa liderança pode ligar-se a terceiros antiéticos; demitir colaboradores éticos e admitir e promover indivíduos que tenham o seu perfil antiético; contratar consultores, fornecedores e empresários que tenham capacidade de cumprir atos ilícitos; ignorar código de ética; elaborar estudos e planos para ilustrar estratégias perversas, justificando seus interesses egoístas. Assim, se cria uma rede de corrupção, com a liderança desejando se perpetuar no poder.  Se for corrupta desagrega uma equipe. Pode subornar alguns membros para que sejam seus seguidores, também antiéticos.

Reprime-se esse mal, substituindo-o, através de um processo de recrutamento e seleção profissional que priorize a avaliação do caráter. Ou, com eleição, no caso de conselheiros de corporações e organizações sem fins lucrativos, além de governantes de instituições públicas. Processo que pode ser complexo para ser viabilizado a depender da estrutura de poder estabelecido nos instrumentos legais do sistema de governança - contrato social, estatuto e/ou legislação. Entretanto, é essencial ocorrer.

Princípios éticos devem ser cultivados e praticados desde criança pelas famílias com a colaboração oportuna e adequada da escola, que deve ser, essencialmente, um centro de desenvolvimento de valores e de pensadores críticos, estratégicos e sistêmicos para o bem coletivo. Essa formação ética será a base dos comportamentos do indivíduo social e profissionalmente. Assim, cidadãos e líderes éticos poderão ser formados, e comprometidos em cultivar organizações éticas.

Sobre o autor: Eduardo Carvalho, é Harvard University Advanced Leadership Fellow

Este artigo é de responsabilidade dos autores e não reflete, necessariamente, a opinião do IBGC.

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