Os dilemas de divulgações ESG em empresas fechadas

Artigo instiga empresas a pensarem sobre a melhoria da transparência e da comunicação assertiva junto a seus stakeholders

  • 16/11/2022
  • Edna Holanda, Debora Santille e Marcos Silveira
  • Artigo

Sócios e executivos de empresas fechadas sempre se questionam sobre a divulgação de informações ambientais, sociais e de governança (ASG ou ESG) para seus stakeholders. Geralmente se perguntam: 1) Quais os benefícios para as empresas fechadas na divulgação de informações? e 2) Capturar, tratar e divulgar ações de ASG é um modismo ou uma tendência?

O assunto tem provocado reflexões interessantes sobre a transparência e a comunicação assertiva com stakeholders das empresas fechadas no Brasil. São várias as óticas que poderiam ser analisadas, mas vamos nos ater a dois aspectos muito simples: o de um stakeholder relevante – o doador de crédito – e outro também muito relevante, o consumidor (cliente).

Sob o ponto de vista de empresas fechadas geradoras de caixa e bem administradas, que dependem menos de crédito, há o questionamento sobre o objetivo destas informações serem divulgadas e quais benefícios seriam capturados por elas. Geralmente, estas empresas têm ações genuínas relacionadas à preservação do meio ambiente e cuidados com as pessoas e comunidade, mas preferem não divulgar.

Já no caso de empresas fechadas, tomadoras recorrentes de linhas de crédito para financiar suas operações ou seus investimentos, a demanda por informações relacionadas aos aspectos ambientais, sociais e de governança pelas instituições financeiras é crescente, mas não imprescindível. Essa demanda ainda não afeta de forma significativa o custo do crédito, que está mais baseado na capacidade de pagamento e nas garantias oferecidas.

Entretanto este cenário tende a mudar no Brasil. Recentemente o Banco Central publicou um conjunto de normas (BCB 139 e 140, Res CMN 4943, 4944 e 4945) que tratam do gerenciamento de riscos sociais, climáticos e ambientais das instituições financeiras, estabelecendo regras obrigatórias para reporte a partir de 1/12/22.

Os bancos precisarão capturar informações relacionadas a aspectos ambientais e sociais de seus clientes e integrá-las na gestão de riscos da instituição. Deverão ser analisadas três óticas: a operação, o cliente e o setor. A partir desta análise serão estabelecidos parâmetros que deverão estar alinhados com a política de responsabilidade socioambiental e climática da instituição.

Mas você deve estar se perguntando: qual a relação entre as empresas fechadas e essas novas exigências de reporte do BACEN? A partir de 2023 estas normas passarão a ser integralmente cumpridas e os bancos passarão a ter um papel importante na agenda de sustentabilidade das empresas brasileiras. Não é tão simples a associação, mas no momento de conceder o crédito, o banco poderá incluir aspectos sociais e ambientais para definir a taxa de juros cobrada, além das informações sobre governança, que já são levadas em consideração na análise de crédito.

É claro que neste caso não estamos esperando a transparência praticada por empresas de capital aberto com registro na CVM e ações negociadas em bolsa, mas sim uma comunicação que possibilita maior efetividade e fluidez junto a negociação com instituições financeiras ou fornecedores, por exemplo. Também o acesso ao investimento privado levando em conta essa demanda nos principais gestores de recursos.

O outro agente indutor poderá ser o próprio consumidor ou cliente. A pandemia vivenciada nos últimos três anos evidenciou um novo posicionamento relacionado a questões éticas, causas sociais e ambientais e tem mudado a maneira como o consumidor escolhe os bens e serviços que consome.

O recorte do Brasil do estudo EY-Pathernon Future Consumer 2021, demonstra que a sustentabilidade se tornou o critério mais importante de compra para 66% dos brasileiros entrevistados. “Com a pandemia, 61% passaram a achar mais importante observar os valores praticados pelas empresas das quais pretendem comprar. Os consumidores se mostram mais dispostos a, no futuro, comprar produtos de empresas que, durante a pandemia, cuidam de seus funcionários (79%), garantem por meio de seus negócios o impacto positivo na sociedade (75%) e, além disso, assumem uma postura ativa nos demais suportes necessários à comunidade (72%).”

Se relacionarmos o resultado desta pesquisa a pesquisa Millennial & Gen Z Survey 2022, realizada com representantes das gerações Z e Millennials, observa-se que a preocupação destes jovens passa por questões de desemprego, segurança e custo de vida. Em 4º lugar no ranking, aparecem as preocupações relacionadas às mudanças climáticas, em proteger o meio ambiente e a desigualdade de renda. Estas gerações serão os consumidores relevantes, sócios e executivos de empresas e tenderão a valorizar aspectos ASG em suas decisões.

Começamos o artigo com duas perguntas e terminamos com um desafio: Qual é a prioridade dos sócios e executivos da sua empresa na melhoria da transparência e da comunicação com seus stakeholders diante do novo perfil de consumidor (cliente) e a pressão dos doadores de crédito e investidores? E como começar a ter uma comunicação assertiva e ser transparente?


Autores: Edna Holanda, Debora Santille e Marcos Silveira.

Este artigo é de responsabilidade dos autores e não reflete, necessariamente, a opinião do IBGC.

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