Governança orientada por design

Segundo Eduardo Carvalho, a governança em Singapura tem o firme comprometimento de “tolerância zero com a corrupção”

  • 17/04/2023
  • Eduardo Carvalho
  • Artigo

O design abrange o espectro de desenvolvimento de produtos - como as empresas prestam serviços aos seus clientes, molda decisões e fornece soluções para problemas reais - integrado à sua estratégia. Esse conjunto de ações é o que define a organização liderada por design. Portanto, design não se refere apenas à estética, elementos funcionais ou artes visuais.

Após a morte de Leonardo Da Vinci, cientistas e historiadores se debruçaram sobre o seu trabalho e descobriram protótipos, desenhos conceituais e planos que estavam séculos à frente de seu tempo. Com projetos de máquinas voadoras, cidades, pontes hidráulicas, armas automáticas, instrumentos musicais, mapas, entre muitos outros. Era muito curioso. Observava e estudava o mundo ao seu redor, sempre questionando o porquê. Ele anotava suas ideias, esboços, pensamentos, projetos, criando milhares de páginas denominadas de “os cadernos de Leonardo”, que parecem ser uma previsão do futuro do mundo. Da Vinci é reconhecido como um dos principais design thinkers da história.

Mais de cinco séculos após a sua morte, as empresas constataram que o design thinking é crítico para a competitividade corporativa e de uma nação. É a abordagem de pensar como um designer e resolver problemas criativamente. Fundamentalmente centrada no ser humano para criar soluções inovadoras e relevantes. Requer mentalidade de crescimento, conforme conceituado por Carol Dweck, autora do livro Growth and Fixed Mindsets. Assim sendo, as pessoas enfrentam desafios, acreditam que as próprias qualidades podem ser desenvolvidas e criam paixão por aprendizado e inovação. Um líder com mindset de crescimento cria uma cultura colaborativa e de desenvolvimento.

Na liderança por design, tudo começa com os líderes de uma organização nutrindo a cultura de design, que compreende identificar as necessidades reais das pessoas para as quais as soluções estão sendo criadas. O processo questiona se o que está sendo criado é: 1) Desejável 2) Aplicável 3) Viável financeira e tecnicamente. Equipes multidisciplinares necessitam ser envolvidas, trabalhando de forma colaborativa. Precisa-se de pessoas especialistas, porém com capacidade de conversação com outras disciplinas. A abordagem é transdisciplinar.

Uma nação referência em cultura de design thinking é Singapura. O país, ao tornar-se independente, em 1965, apresentava renda per capita equivalente ao Brasil, cerca de dois mil e quinhentos dólares (na época). A sua área territorial equivale a 1/3 da área do menor estado do Brasil, com uma população estimada em 6 milhões de habitantes. Entretanto, o país evoluiu para ter uma renda per capita de U$ 64 mil dólares e um conjunto de indicadores que é referência global. É o país mais competitivo do mundo, o quinto mais inovador, o segundo que mais facilita a implantação de negócios e sua educação básica é uma das cinco melhores.  É também um grande hub de transporte internacional, tendo o segundo porto mais movimentado do mundo. Certamente, a governança, que tem o firme comprometimento de “tolerância zero com a corrupção”, contribuiu muito para esses resultados.

O sucesso do país pode ser creditado à "governança orientada por design-GD", que consegue transformar uma crise global em oportunidades de negócios. A nação criou essa cultura, consciente que o processo ajuda a aumentar a capacidade de uma organização de absorver, reconhecer, coletar e aplicar novas informações para fins comerciais. Esse modelo de governança é coordenado pela agência nacional, Design Singapore Council-DSC.

O papel da agência é ajudar organizações e empresas a usar o design como estratégia para o crescimento dos negócios e para uma excelente prestação de serviços públicos. Para esse objetivo, prioriza o desenvolvimento de talentos com formação em design, tornando-os referência internacional, assim como as empresas de design. Com essa visão, a DSC executa uma variedade de iniciativas lideradas por design e oferece suporte prático para equipar as empresas com os recursos, habilidades e conhecimentos necessários para suas operações diárias.

Um dos recursos importantes da agência é a Escola X, uma sala de aula sem paredes, onde pessoas com experiências diversas se reúnem para resolver desafios comunitários ou de negócios através do design thinking. O ambiente tem facilitadores de design e conta também com patrocinadores de desafios. Qualquer cidadão pode frequentar a escola. Precisa ser curioso, mente aberta e disposto a colaborar como agente transformador.

O caso de Singapura merece ser estudado pelos governos e pelas lideranças das organizações de outras nações.


Sobre o autor: Eduardo Carvalho, Harvard Advanced Leadership Fellow e autor do livro Global Changemaker.


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