Governança em tempos de transformação

Andiara Petterle aponta lições de governança corporativa relacionadas à ascensão e queda da  Blackberry

  • 01/12/2023
  • Andiara Petterle
  • Artigo

A história da Blackberry, como contada no filme da Netflix "Blackberry", oferece uma reflexão crítica sobre a efemeridade do sucesso no dinâmico mundo da tecnologia. Este conto de ascensão e queda de um gigante da indústria de smartphones ressoa profundamente com lições para a governança corporativa contemporânea.

Complacência estratégica e cultura corporativa
O filme destaca a complacência estratégica da Blackberry frente à inovação disruptiva de concorrentes como Apple e Android. Esta postura, enraizada na arrogância e miopia, revela um desafio central para os conselhos de administração: como evitar que o sucesso anterior cegue a empresa para as mudanças necessárias? A falta de diversidade e inclusão nos níveis superiores da organização contribuiu para um pensamento homogêneo, prejudicando a capacidade de resposta às mudanças do mercado e às necessidades dos consumidores. As empresas hoje devem cultivar uma cultura corporativa que valorize a diversidade de pensamento e a adaptabilidade.

O papel vital do conselho na era da disrupção digital
O caso da Blackberry sublinha a necessidade de um conselho de administração proativo e bem-informado. Os conselhos devem estar equipados com uma variedade de perspectivas e conhecimentos para enfrentar os desafios da era digital. A capacidade de antecipar e gerir riscos, especialmente diante da disrupção tecnológica acelerada pela Inteligência Artificial, é um fator crítico.

Conectando governança e consumidor
A desconexão da Blackberry com seu mercado consumidor serve como um lembrete vital para os conselhos. Compreender profundamente e antecipar as necessidades do consumidor é essencial. Os conselhos devem assegurar que a estratégia corporativa esteja alinhada com as expectativas e preferências do mercado, evitando assim a armadilha da miopia corporativa.

Preparação para a transformação digital
O filme ressalta a transformação digital como um risco significativo, superando problemas tradicionais como fraudes. Os conselhos devem liderar na adoção de uma abordagem proativa, promovendo uma cultura de aprendizado contínuo e adaptabilidade. A preparação para mudanças rápidas e imprevisíveis é crucial para a sobrevivência e sucesso das empresas na era digital. A negligência em embarcar em jornadas de transformação digital pode levar à perda de relevância e competitividade no mercado.

AI: a fronteira da disrupção acelerada e a preparação dos conselhos
A nova realidade imposta pela Inteligência Artificial (AI) representa uma fronteira de disrupção tecnológica sem precedentes. A capacidade da AI de transformar indústrias inteiras em um ritmo acelerado coloca uma questão crítica: os conselhos de administração estão realmente preparados para essa velocidade de mudança? Esta tecnologia tem o potencial de alterar fundamentos de mercado e comportamentos de consumidores muito mais rapidamente do que qualquer inovação anterior.

Neste cenário, a função dos conselhos é dupla: primeiro, eles devem garantir que a empresa não apenas entenda a AI, mas esteja pronta para incorporá-la estrategicamente em seus negócios. Segundo, os conselhos precisam estar vigilantes e ágeis para identificar e responder às mudanças rápidas trazidas por essa tecnologia, adaptando-se continuamente às novas realidades do mercado.

O desafio é formidável. A AI não é apenas uma nova tecnologia a ser integrada; ela tem o potencial de redefinir completamente os paradigmas de negócios existentes. Portanto, a preparação para esta nova era vai além da mera atualização tecnológica, exigindo uma revisão profunda da estratégia empresarial, dos processos de tomada de decisão e da própria cultura organizacional.

Riscos fiduciários para conselheiros em ambientes voláteis
A era digital e a disrupção tecnológica aumentam os riscos fiduciários para os membros do conselho. A responsabilidade de tomar decisões informadas e prudentes é amplificada em um ambiente que exige agilidade e inovação contínua. Os conselheiros devem estar cientes dos riscos emergentes e serem capazes de avaliar e mitigar esses riscos, protegendo os interesses dos stakeholders.

Além do filme: aplicando as lições da Blackberry com novas competências e foco no conselho
A narrativa da Blackberry evidencia a necessidade urgente de novas competências nos conselhos de administração. Na era da transformação digital, os conselhos devem se reequipar com habilidades relevantes para entender e abraçar as mudanças tecnológicas. Isso envolve não apenas o entendimento de tecnologias emergentes, como a Inteligência Artificial, mas também uma forte percepção dos modelos de negócios digitais e das tendências do consumidor. A ampliação das competências dos conselheiros é essencial para garantir uma tomada de decisão estratégica eficaz.

Além disso, é imperativo que a transformação digital ocupe um espaço proeminente na agenda dos conselhos. O foco não deve ser apenas em mitigar os riscos associados à disrupção digital, mas também em identificar e capitalizar as oportunidades que ela apresenta. A abertura para discussões estratégicas sobre inovação digital, investimentos em novas tecnologias e adaptação dos modelos de negócios deve ser uma prioridade.

Cultivando um futuro resiliente e inovador
O caso da Blackberry ressalta a importância da governança corporativa em cultivar um futuro resiliente e inovador para as empresas. Os conselhos de administração desempenham um papel crucial na orientação estratégica das empresas, especialmente em tempos de incerteza e mudança rápida. A capacidade de adaptar-se, evoluir e abraçar a transformação digital determinará quais empresas irão prosperar e quais serão abandonadas.


Sobre a autora: Andiara Petterle atua em conselhos de administração de diversas empresas no Brasil e América Latina, com mais de 25 anos de experiência em setores digitais, de mídia, tecnologia e venture capital. Atualmente, é vice-presidente do conselho da Cia Melhoramentos e conselheira independente em empresas como Assaí Atacadista e Banco Sicredi. Petterle é também professora de Transformação Digital no IBGC e doutoranda na Business School Lausanne. Completou estudos em transformação digital pela Stanford University School of Engineering e possui certificado em Sustainable Capitalism and ESG by Berkeley Law, além de formação na Stanford Business School e na Harvard Business School.

Este artigo é de responsabilidade dos autores e não reflete, necessariamente, a opinião do IBGC.

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