“Cada vez mais, empresas estão tendo programas de inovação e aceleração aberta”

Gerente do BNDES , Filipe Borsato, fala sobre negócios de impacto e o movimento de aquisição de startups por empresas maiores

  • 06/08/2021
  • Gabriele Alves
  • Bate-papo

A inovação tem sido um imperativo no mercado corporativo que, a cada dia, se afirma pelo pilar da colaboração. No Encontro de Conselheiros do IBGC, em 2021, muitos especialistas compartilharam que o aproveitamento da inteligência coletiva é uma das estratégias cruciais para as empresas do futuro e que nenhuma organização ou tecnologia pode operar de maneira isolada. 

“Os futuros são moldados por pesquisa e desenvolvimento, tecnologias e padrões compartilhados que são co-desenvolvidos”, afirmou Roger Spitz, um dos palestrantes do Encontro já entrevistado pelo Blog IBGC. Nesse sentido, emerge o conceito de inovação aberta (do inglês, open innovation) que tem como proposta unir a força de empresas, indivíduos e órgãos públicos na criação de novos produtos e serviços, já que as parcerias podem gerar benefícios significativos como redução de custos, mitigação de riscos, mudança na cultura organizacional, entre outros.

Considerando este cenário, o IBGC lançou recentemente a segunda edição de seu Programa de Mentoria para Startups e Scale-ups, em parceria com o Cubo Itaú, Distrito Fintech e BNDES Garagem, com o objetivo de apoiar o crescimento exponencial e sustentável de startups brasileiras, por meio de boas práticas de governança corporativa e de forma colaborativa.

O Blog IBGC conversou, então, com o novo parceiro da edição, o BNDES Garagem, programa de inovação e aceleração de startups, representado pelo gerente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Filipe Borsato, que contou um pouco sobre a iniciativa e sobre como a colaboração entre empresas, a fim de inovar, tem se transformado em verdadeiros cases de sucesso. Confira o papo com Filipe, a seguir:

Blog IBGC. Queria começar falando dos cenários ou fatores no empreendedorismo que motivaram a criação do BNDES Garagem. Quais foram eles?
Filipe Borsato: O BNDES Garagem foi criado como uma forma do BNDES fomentar o ecossistema de empreendedorismo e inovação. Isso não é um movimento único do BNDES, porque uma série de empresas têm se movimentado para fazer programas de aceleração, que a gente chama de inovação aberta, além de outros bancos terem programas assim. Então, foi uma forma do BNDES fomentar tanto esse ecossistema, quanto uma mudança de cultura organizacional para que a gente pudesse atuar de uma forma mais inovadora, com mais foco nas pequenas empresas, entendendo melhor os desafios. Desta forma, foram duas grandes vertentes que motivaram sua criação: uma vertente nossa, enquanto banco que visa promover empreendedorismo e inovação e uma segunda vertente que pretende se apropriar de uma cultura mais inovadora, mais rápida que vem, por exemplo, por meio do contato com as startups.

Vocês estão na segunda edição do programa, quais foram até aqui as conquistas, diferenciais e impactos?
Na primeira edição tivemos uma abordagem mais transversal. Foram aceleradas 74 startups em um programa de aceleração de 6 meses. Foram, então, 30 empresas de tração e 44 criação. Criação é o nome que damos àquele grupo de empreendedores que já podem ter um CNPJ, mas não necessariamente tem um CNPJ e eles já tem um protótipo de um produto, mas não necessariamente o mínimo viável para uso comercial. Ou seja, não necessariamente faz vendas. Já a escala de tração conta com startups que estão pegando impulso para crescer. Nesse grupo, foram 30 startups que faturavam até 16 milhões de reais. E esse valor vem do conceito da CVM de capital semente. Ou seja, eram empresas que eventualmente já tinham seu produto mínimo viável e que já tinham algum nível de vendas, além disso, elas já começavam a emitir fatura e queriam crescer e ganhar impulso. Essa primeira edição foi em um dos espaços de coworking da We Work.

E como será o trabalho com as startups nesta segunda edição do BNDES Garagem?
Já nesta segunda edição, a gente se conectou muito ao propósito do BNDES de ser um banco que promove desenvolvimento sustentável, com negócios de impacto. A definição de negócios de impacto foi baseada naquela trabalhada pela Estratégia Nacional de Investimentos e Negócios de Impacto (Enimpacto), porque o conceito é novo e desenvolvido a partir da tese de que são negócios que têm a intencionalidade de gerar impacto positivo. Trata-se de um subgrupo de empresas que não só tem preocupação com os critérios ESG (ambiental, social e de governança) mas tem uma intencionalidade de gerar impacto social positivo. Na primeira edição, por exemplo, tivemos uma empresa de monitoramento de incêndio florestal. Então quanto mais ela monitora mais ela evita incêndios. E são empresas que declaram isso e tentam mensurar. Por isso, nesta segunda edição a gente está fazendo parceria com três aceleradoras que formaram um consórcio. Temos um total de 135 startups, divididas em três grupos de 45. Cada grupo terá uma subdivisão de 20 empresas de criação e 25 de tração, por turma . Os setores que a gente vai focar são sustentabilidade (agrícola e florestal), saúde, educação, cidades sustentáveis, e gov tech. Serão essas cinco verticais.

O que vocês têm aprendido com o conceito de inovação aberta e como esperam que seja o trabalho com o IBGC no Programa de Mentoria?
A gente tem um potencial de conexão muito grande, enquanto instituição de desenvolvimento e agora a gente aprendeu que poderíamos potencializar o trabalho com mais foco, gerando impacto social na sociedade. A gente colocou critérios geográficos, de diversidade, etnia e gênero para a escolha dessas startups e estamos buscando ter uma visão mais diversa. A partir da parceria com o IBGC, a gente acha que maximiza o ganho cultural, pois o IBGC tem uma série de estudos muito importantes e há algum tempo vem aprofundando outros sobre pequenas empresas e startups também. Eu acho muito bacana a visão do IBGC em ver a governança como um trilha em que a empresa vai se desenvolvendo e trilhando um caminho de governança e isso casa muito com o movimento de criação e aceleração de startups, ainda mais neste caso de startups de impacto social que surgem com um nível de governança diferenciado. Então essa troca de experiências e a oportunidade das startups terem acesso ao conteúdo do IBGC, terem acesso a pessoas certificadas pelo IBGC, vimos com muito bons olhos. Essas startups com impacto social poderão desenvolver sua trilha de governança e na nossa visão tudo anda junto.

Como vocês esperam que as startups apoiem grandes empresas?
A gente espera que por meio do programa haja possibilidade de conectar startups com investidores e com grandes empresas, dando mais visibilidade junto aos conselhos de grandes empresas. Por isso, temos feito uma aproximação com as diretorias de inovação e de planejamento estratégico. Achamos que naturalmente surgirão parcerias. Haverá muito mais visibilidade para o programa de aceleração aberta. O que posso dizer para você a partir da experiência já há uns bons anos, para gente é bem nítido que cada vez mais, empresas estão tendo programas de inovação e aceleração aberta. É um volume bem alto que, antes, a gente não via. Antes a gente contava nos dedos.

E o que você acha que fez dar essa guinada?
Os casos de sucesso. Empresas de tecnologia começam a acessar mercado de capitais de forma mais estruturada, estou falando de IPOs, seja dentro ou fora do Brasil, e são empresas que têm uma curva de valorização e crescimento mais acelerada que a média. Então, mesmo aquelas empresas de segmentos mais tradicionais estão percebendo que a digitalização da economia é um movimento de que precisam se aproximar. Hoje, empresas de sucesso financeiro são empresas que têm um movimento de aquisições de pequenas empresas de tecnologia bem acentuado. Os setores mais tradicionais estão pensando em como ganhar mais eficiência, mais transparência, e aí elas começam a se aproximar dessas empresas mais novas, seja para fazer parceria ou para o processo de aquisição mesmo. São casos de sucesso. E é o que todo o mundo mostra. As empresas mais valiosas do mundo hoje eram ou muito pequenas ou eram startups. Isso fez com que esse movimento de aproximação entrasse nos conselhos que tem uma visão mais de longo prazo sobre a companhia. A gente vê isso com bons olhos e quer facilitar esse movimento principalmente com startups que gerem impacto, porque a gente conjuga o movimento de forma estrutural com o setor de desenvolvimento também. Se as empresas porventura queiram melhorar sua política de resíduos, sua rastreabilidade da cadeia de fornecedores ou sua relação com os clientes e as comunidades, a gente vê uma série de potencialidades com a atuação de grandes empresas. E me parece que isso tem gerado bastante relevância dentro da temática ESG. Isso vem ganhando mais relevância dentro dos conselhos.